quarta-feira, 21 de abril de 2010

Autoajuda sem querer

É quase sempre a mesma história. Amigos reunidos num bar. O garçom chega para anotar os pedidos. Alguns clientes pedem chopp, outros resolvem se arriscar na caipirinha duvidosa... E aí tem aquele cara que, por alguma razão, mas geralmente só por não gostar do gosto do álcool, pede um refrigerante. Até aí, tudo bem.
O problema é que o cara não pede só um refrigerante: "Uma coca, por favor". Ele diz: "Hmmm, eu tô tomando remédio, então vou ter que ficar no refrigerante mesmo. Uma coca, por favor". Ou então agora, nos tempos de lei seca: "É, hoje eu sou o motorista da rodada... fazer o quê? Uma coca, por favor".
E o garçom simplesmente anota "uma coca" e se dirige à cozinha. Sem esboçar nenhuma reação adversa, é claro. E os amigos do cara que não tá à fim de beber álcool - ou que não bebe nunca, porque não gosta - continuam seus papos como se nada tivesse acontecido, apesar da interrupção do garçom. Mas o cara que não "bebe" acha sempre que a reação virá. "Devem achar que eu sou um ET por estar numa mesa de bar e pedir uma coca", ele pensa. Então, por reflexo, sem pensar muito, acaba dando um desculpa esfarrapada logo depois de pedir a coca ao garçom. Ele acha que assim pode evitar olhares de reprovação por parte dos amigos, do garçom e do resto da sociedade.
O que o coitado não sabe ou, desconfio que seja isso, não quer enxergar é que ninguém está realmente se importando com a escolha da bebida dele. Uma das coisas mais legais de se viver na pós-modernidade (e olha que eu nem sou muito chegada a ela) é que a ausência de ideologia nos permite escolher quase tudo. Pode não parecer, mas em uns aspectos até que somos bastante livres. Sei que comparar uma situação banal como essa - não tomar bebida alcoolica porque não gosta - à liberdade do ser humano pode ser meio esquisito. Mas eu sou daquelas que vê graça nas coisas pequenas e que acha que o problemão só existe porque é composto por um monte de probleminhas acumulados.
Para evitar os probleminhas, acho que primeiro temos que dar uma boa encarada em nós mesmos e concluir que a maioria das coisas que incomodam nossas cabeças não tem a mínima importância.
Se na hora de pedir a coca-cola para o garçom ainda vier aquela vontade de se explicar, temos que pensar que não dependemos de um pensamento geral que tentam empurrar por nossas goelas.
Somos, sim, livres. E aquele cara encanado do bar pode até um dia resolver tomar um porre. E a vida das pessoas ao redor dele não vai mudar nem um pouquinho.

foto: GettyImages

4 comentários:

João Miller disse...

acho que esse post foi baseado em uma pessoa que eu conheço. besteira minha..

Victor Rosa disse...

Hahahahahahaha dito e feito!

Unknown disse...

Uma coca, por favor !

mariana disse...

ninguém tá nem aí se vc quer ir no bar e tomar refrigerante, mas todo mundo me julga qd eu digo q quero pedir um prato de arroz. a sociedade tolera que não se beba álcool, mas não tolera q se vá a um bar e se peça arroz. aí, ninguém é pós-moderno. todos me limitam. hahahaha

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