segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Boca sem lábia

Em época de eleições boa eloquência conta ponto. Como diria um exímio candidato a deputado federal e ex-cantor "Vote Tiririca; pior do que está não fica". Por outro lado políticos se esforçam para mostrar novos projetos e melhorias, tentando colocar suas palavras adequadamente de forma a atrair o eleitor, nos seus discursos polidos e "elegantes". Eu nunca tive esse dom. Ainda que, no caso destes, distorcido de honestidade. Mas é o talento da boa fala que poucas pessoas possuem. E a lábia já me deixou na mão muitas vezes.
Sempre fui um admirador quieto daqueles que sabem o que fazer com os braços em conversas longas com semi-conhecidos. Daqueles que em apresentações de trabalho não precisam decorar o que falar, mas soltam livre e organizadamente os pensamentos que lhe surgem na hora. E eu suando, perdido nos meus papéis e raciocínios quando na minha vez a mente se esvazia inexplicavelmente. Driblando as gagueiras e frases sem nexo, eu trabalho dobrado pra pelo menos livrar minha barra dignamente e sentir o prazer do alívio. Pois é, isso não é certo. Ficava horas comigo mesmo treinando falas pros encontros inesperados na rua ou no ônibus, com aqueles conhecidos da vida que você nunca sabe o que falar. Assunto se vê na hora. Clima, faculdade, família...O que acontece é que na hora, querendo mostrar uma falsa naturalidade, eu sempre falo alguma besteira não planejada. Aí já era.
Quando eu era criança eu achava que todo mundo da televisão tinha o dom da lábia, que todo mundo falava bonito, dava entrevistas bem e mal se esforçava pra isso. Fui me achando mais e mais desprovido da capacidade de falar bem. Daí fui descobrir que existe o discurso piegas e nele contém sempre as mesmas palavrinhas clichês que dão seu jeito em entrevistas. Os âncoras de jornais lêem TP e os apresentadores usam ponto eletrônico. Os jogadores de futebol de fato são excessão, mas a resposta é sempre a mesma, que o jogo poderia ser melhor 'grazadeus' e que no segundo tempo vão se esforçar pra um 'resultado positivo'.
Mas eu desejava coisa simples, que eu pudesse parar o tempo pra poder pensar muito bem em cada palavra a se dizer. Ou que pelo menos as palavras fáceis surgissem no primeiro plano dos meus pensamentos, já que não posso me permitir o direito de falar bonito, sabendo claramente desse talento que não me vale. Acontece que o tempo não pára, ele parece me pressionar nessas horas mais constrangedoras. E o que surgem são sempre as palavras mais difíceis, muitas vezes palavras que eu nunca uso do tipo, 'algoz', 'renitente', 'inexorável', 'frívola'. Fora que os sinônimos parecem se esconder, nunca existem nessas horas.
Hoje em dia eu até aprendi a gostar da minha confusão verbal, da minha pouca eloquência. Talvez resultado de um misto de timidez e perfeccionismo. Pode ser até outra coisa que eu ainda não tenha descoberto. Mas prometo a vocês, vou construir frases coerentes e com verbos corretamente conjugados nesse blog. E se acreditarem e mim, garanto: nunca serei político.

foto: GettyImages

3 comentários:

mariana disse...

a maioria das pessoas q conversa com semi-conhecidos ou q fala bem em público na verdade só ensaia e disfarça bem. aprendi isso com meus professores.

Marcela Capobianco disse...

sabiam que eu já quis ser política? na minha fase pseudo-revolucionária... graças a Deus voltei à vida da preguiça ideológica e hoje morro de nojo dessa palhaçada que temos que ver na tv.
quanto à toleima que é a oratória, queria herdar o gene da família que sabe falar bonito. herdei os genes dos que só conseguem escrever o que queriam falar mas não conseguem...

mariana disse...

ah, eu tb me expresso melhor escrevendo.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails