Eu era aquela criança que sempre sonhou em quebrar o braço, usar aparelho móvel, andar de muleta ou cadeira de rodas pra poder subir de elevador na minha escola (só quem podia eram as freiras, funcionários e os acidentados). Achava tudo isso fantástico. Mas o máximo que eu consegui foi quebrar meu dedo mindinho. E pra minha infelicidade não engessei, botei só um curativo sem graça com esparadrapos e uma tala. O máximo de realização foi uma tipóia que eu ganhei, e que logo no segundo dia a médica disse que não era preciso usar mais. Logo eu que sonhava com o dia que eu ia chegar na escola com o gesso limpinho pra todo mundo assinar e deixar mensagens legais. E o pior é que eu sempre via alguém engessado ou de muleta que falava "Ah, mas eu só vou precisar ficar cinco dias com isso". Mundo injusto. Eu quebrei o meu dedinho e tiver que ficar um mês com uma tala enrolada em curativos caretas. Por que não gesso, meu Deus?
É lógico que eu já cogitei me auto acidentar. Mas nunca tive coragem. No auge da infância eu me arriscava sem pudor, pra que eu me machucasse de alguma maneira. Só que esses picos de coragem não passavam de coisas que as crianças mais ágeis faziam com muita facilidade. Então as chances de quebrar um braço ou uma perna continuavam muito longe de mim. Bom, desisti de quebrar partes do meu corpo e parti pra outra. Quando fui ao dentista, sabendo já que meus dentes eram separados e tortos já me imaginava saindo do consultório com aquela caxinha de aparelho e falando todo engraçado com o aparelho na boca. Meu mundo caiu quando a minha dentista disse que eu ainda tinha cinco dentes de leites. Doze anos de idade e cinco dentes de leite ainda!? Mais que azar. No final ela me disse que eu só iria precisar usar aparelho quando todos caíssem, mais ou menos com uns 13 anos. Pois bem, com 15, tendo só dentes definitivos enfim, fui ao primeiro ortodontista que me receitou de cara aparelho fixo e o famoso freio de burro pra dormir à noite, já que minha mordida era torta. Dos acidentes e necessidades clínicas de infância o aparelho fixo e o freio de burro eram os únicos que eu não queria pra mim. Ainda mais pra um adolescente de 15 anos conformado com uma infância de saúde óssea, dentária e visual perfeitas.
Com uns 16 anos de idade precisei ir a um oftalmologista. Era minha chance de botar a mão no meu primeiro par de óculos e mostrar pra todo mundo que eu também era míope e tinha um pouco de astigmatismo no olho direito. A doutora me examinou durante algum tempo. Realizei meu sonho de fazer o teste de ler as letrinhas que vão diminuindo. Só que eu li todas com facilidade. Fui pra outro aparelho que embaçava minha vista direto. Pronto, um fio de esperança. Era agora que ela ia me dar a receita pra fazer meus óculos. Não, peraí: "João, você tem convergência. É como se os músculos do seu olho não fossem forte o suficiente pra focar uma coisa muito de perto. Mas fica tranquilo, você não vai precisar usar óculos". Nããããããão! Minha última esperança ia embora e não tinha mais jeito, fui embora do colégio sem um gesso pra assinarem, sem um par de óculos pra botar em sala de aula e nem caixinhas coloridas com o aparelho pra girar na mão. Era o fim.
Cá estou, estudante de faculdade e caleijado com as lições que a vida saudável de estudante de colégio me deu. Porém eu sinto que é sério esse problema na vista que venho me queixando esse ano. Não tava enxergando direito as coisas de longe e não havia porque forçar uma barra, não era mais criança. Já aprendi a dar valor à saúde com 20 anos de idade. Marquei então uma consulta no oftalmologista essas férias. Foi numa segunda, dia lindo de sol que eu aproveitei pra ir à praia. Saí mais cedo e tudo, já diferente do mesmo garoto que há dez anos atrás estaria radiante por ter que usar óculos. Cheguei no consultório e fui atendido logo. O doutor me botou novamente no teste das letrinhas e em inúmeros aparelhos diferentes. Agora já era, já sabia da resposta, só não esperava ouvir:
- Sua vista é perfeita meu jovem
É lógico que eu já cogitei me auto acidentar. Mas nunca tive coragem. No auge da infância eu me arriscava sem pudor, pra que eu me machucasse de alguma maneira. Só que esses picos de coragem não passavam de coisas que as crianças mais ágeis faziam com muita facilidade. Então as chances de quebrar um braço ou uma perna continuavam muito longe de mim. Bom, desisti de quebrar partes do meu corpo e parti pra outra. Quando fui ao dentista, sabendo já que meus dentes eram separados e tortos já me imaginava saindo do consultório com aquela caxinha de aparelho e falando todo engraçado com o aparelho na boca. Meu mundo caiu quando a minha dentista disse que eu ainda tinha cinco dentes de leites. Doze anos de idade e cinco dentes de leite ainda!? Mais que azar. No final ela me disse que eu só iria precisar usar aparelho quando todos caíssem, mais ou menos com uns 13 anos. Pois bem, com 15, tendo só dentes definitivos enfim, fui ao primeiro ortodontista que me receitou de cara aparelho fixo e o famoso freio de burro pra dormir à noite, já que minha mordida era torta. Dos acidentes e necessidades clínicas de infância o aparelho fixo e o freio de burro eram os únicos que eu não queria pra mim. Ainda mais pra um adolescente de 15 anos conformado com uma infância de saúde óssea, dentária e visual perfeitas.
Com uns 16 anos de idade precisei ir a um oftalmologista. Era minha chance de botar a mão no meu primeiro par de óculos e mostrar pra todo mundo que eu também era míope e tinha um pouco de astigmatismo no olho direito. A doutora me examinou durante algum tempo. Realizei meu sonho de fazer o teste de ler as letrinhas que vão diminuindo. Só que eu li todas com facilidade. Fui pra outro aparelho que embaçava minha vista direto. Pronto, um fio de esperança. Era agora que ela ia me dar a receita pra fazer meus óculos. Não, peraí: "João, você tem convergência. É como se os músculos do seu olho não fossem forte o suficiente pra focar uma coisa muito de perto. Mas fica tranquilo, você não vai precisar usar óculos". Nããããããão! Minha última esperança ia embora e não tinha mais jeito, fui embora do colégio sem um gesso pra assinarem, sem um par de óculos pra botar em sala de aula e nem caixinhas coloridas com o aparelho pra girar na mão. Era o fim.
Cá estou, estudante de faculdade e caleijado com as lições que a vida saudável de estudante de colégio me deu. Porém eu sinto que é sério esse problema na vista que venho me queixando esse ano. Não tava enxergando direito as coisas de longe e não havia porque forçar uma barra, não era mais criança. Já aprendi a dar valor à saúde com 20 anos de idade. Marquei então uma consulta no oftalmologista essas férias. Foi numa segunda, dia lindo de sol que eu aproveitei pra ir à praia. Saí mais cedo e tudo, já diferente do mesmo garoto que há dez anos atrás estaria radiante por ter que usar óculos. Cheguei no consultório e fui atendido logo. O doutor me botou novamente no teste das letrinhas e em inúmeros aparelhos diferentes. Agora já era, já sabia da resposta, só não esperava ouvir:
- Sua vista é perfeita meu jovem
2 comentários:
aos 6, já tinha minha caixinha colorida e com cheirinho de chiclete do aparelho. aos 11, já usava os óculos para acentuados graus de miopia e astigmatismo. mas detestava tudo que eu tinha... pq queria mesmo era quebrar o braço ou a perna e dar pras pessoas assinarem. nunca. nunca consegui a proeza. mesmo tendo hoje meus joelhos marcados pelas semanais quedas e raladas que sofria. e admito que, aos 20, ainda sentiria um prazerzinho em me ver de gesso.
calma, joão, a gente ainda vai ser diagnosticado.
eu tb to há séculos achando q não enxergo direito, q, mais cedo ou mais tarde, vou ter q acabar usando óculos... aí um belo dia fui ao oftalmologista, e oq ele me diz? "vc não tem nada não, enxerga igual a todo mundo".
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