domingo, 12 de setembro de 2010

O lado nerd controverso

Nesse feriado da independência que passou eu me deleitei com um pouco do humor inusitado das piadas geeks da série The Big Bang Theory. Virei fã. Pra quem não conhece a história gira em torno de dois físicos com alto nível de QI que dividem um apartamento; Eis que uma nova vizinha exuberante e visivelmente oposta aos seus hábitos nerds se muda para o apartamento do lado e mexe com a cabeça de um deles, que começa a tentar mostrar-se o menos esquisito possível diante da garota. Essa personagem, porém, é justamente a quebra que dá o tom divertido à série, já que ela é feita do que é dito o padrão "normal" de inteligência e de comportamento. Acontece que o espectador acha muito mais graça e com certeza se identifica muito mais com o lado nerd da história, com toda graça que gira em torno dessa cultura dos videogames, jogos de computador, internet.. Toda essa cultura que é a cara da minha geração, a geração dos anos 90, 2000. E é inegável dizer: a geração nerd.
Desde que comecei a assistir a série eu decidi confessar pra mim mesmo que existe um nerd em mim. E provavelmente dentro de você deve existir um também. Dedicamos mais ou menos oito horas por dia aos computadores, softwares, navegadores, blogs, e-mails. Fomos crianças saudáveis mas conhecemos muito bem os videogames, os jogos de luta e brinquedos eletrônicos com os dois pés na modernidade. Ansiamos por avanços tecnológicos, gadgets, câmeras, eletrônicos. E tudo isso é fruto de uma mudança nos nossos desejos que vem lá dos tempos que o mundo se tornou acessível demais. Sempre que eu penso nessas coisas nerds eu logo associo ao Japão. No meu entender é de lá que vieram os primeiros computadores, desenhos animados, chips, videogames, tudo isso que hoje se multiplicou. Mas por outro lado eu penso que quem assentou isso tudo foram os americanos, que aprimoraram, mostraram e venderam isso tudo pro mundo. Enfim, pode ser ignorância histórica minha, mas é inevitável dizer que as culturas do mundo (de uns 30 anos pra cá) se misturaram a boa parte dessa mistura nipônico-americana.
É lógico que são interferências importantes, se levarmos em conta o que diz respeito a avanços tecnológicos dos meios de comunicação. O engraçado é tentar resgatar como isso se deu e como seria se não fosse dessa forma. Por que quando eu era pequeno passava Jaspion, Giban, Jiraiya na TV? Por que meu sonho de criança era ter um Game Boy (e daqueles tijolões na época)? E por que hoje nós construímos nossa vida social e intelectual na internet? Eu nem culpo mais o vício (moderado) dos jovens, como eu, que não conseguem sair dos computadores. Isso já tá enraizado. É como se na época da Bossa Nova, os jovens não quisessem aprender violão, ou não ligassem o rádio pra saber que coisa toda era aquela de música que desandou a aparecer. Mas e se tudo fosse diferente hoje? Eu iria pra faculdade de manhã e sairia de lá com livros a pegar em bibliotecas, e trocaria a saudação "Tchau, entra no MSN" por "Até amanhã" entre os meus amigos. Eu não saberia tanto da vida de gente que eu nem conheço, não saberia o que ninguém estaria fazendo se não a visse pessoalmente. Ainda que nos permitamos a escolha de um aparato tecnológico como a TV, eu saberia minimamente do que aconteceria somente na vida cultural do meu país. Se fosse assim, sem muita influência da tecnologia e dos EUA como influenciadores absolutos e diretos na cultura, algumas coisas boas ressurgiriam. Eu teria lido os mais ou menos 37 livros pendentes na minha estante, sairia mais de casa e de fato faria mais exercícios. Não existindo redes sociais, quem sabe os encontros fossem mais frequentes, as pessoas se manifestassem mais, lutassem mais por direitos. Mas por um lado, se não fosse essa globalização toda eu jamais teria visto The Big Bang Theory pra constatar isso tudo.
Ainda que eu tenha um lado nerd, eu sou do tipo avesso à dependência da modernidade. É uma coisa meio doida ainda. Deve ter ficado visível o meu desejo por viver ou ter vivido em épocas de movimentações mais frequentes. Parece que lá se fazia história e hoje se vive recordando delas. É engraçado porque por mais que se diga que a tecnologia reduza distâncias, parece que eu estou cada vez mais longe das pessoas, das histórias de gente vivida, daquilo tudo que a gente tem curiosidade de ver lá fora. Ainda bem que existem blogs pra eu desabafar...
foto: GettyImages

2 comentários:

Marcela Capobianco disse...

muito verdade! nossa geração é total cobaia da tecnologia. às vezes me sinto um ratinho testando icq, depois msn, orkut, twitter, facebook e o que mais forem inventando...
mas engraçado, ainda me despeço dos meus amigos dizendo "até amanhã", mesmo sabendo que posso encontrá-los no mundo virtual.

Thaísa disse...

Engraçado perceber como a minha infância foi bem diferente da que você relatou aqui. Talvez seja pelo fato de eu ter crescido em uma cidade pequena, onde metade do meu dia era brincando na rua! Não tenho muita lembrança dos desenhos que você falou, e nunca vi nenhum desses seriados que todo mundo ama (É sério!) com certeza minhas horas intermináveis na pracinha em frente a minha casa, não permitiam! Felizmente por um bom tempo meus pais conseguiram me privar dessa tecnologia toda que surgia! Lembro também que eu ia pra casa das minhas amigas e a brincadeira deixou de ser ''Barbie'' pra ser ICQ! ahaha Resumindo, apesar de hoje ter que assumir que passo muito ( e bem mais do que eu gostaria) tempo na internet, tudo começou muito tarde pra mim, durante um bom tempo só tinha internet no final de semana, ganhei minha primeira máquina fotográfica no natal do ano passado, não faço idéia do botão que chuta no videogame, não sei nem como eram os Jaspions e ainda levo muita fé de que seria muito melhor falar isso tudo pessoalmente tomando uma cervejinha! ahahaha

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