sábado, 16 de outubro de 2010

Fuso horário de verão

Eu não me lembro de outubros frios, assim como não me lembrava de setembros com insetos de luz. Ao que tudo indica novembro vem aí sem cheiro de fim de ano, e só vai dar pra sentir em dezembro quando o fim de ano já estiver despido e declarado. Eu não tô sacando essas intempéries de 2010. Volta e meia um fenômeno inédito em mês que não cabe, um desastre ecólogico em série. Pois é, a música que Jobim e Elis entoam juntos não fez sentido esse ano. Ainda que só tivessem trocado o mês, se foi em abril que as águas chegaram. Não digo nem que fecharam o verão. Mas teve pau, pedra e até fim do caminho. E ficou claro que em 2010 estação do ano não impôs nada.
Fico feliz que hoje está quente e eu posso sair de bermuda e sem casaco. Tomar um banho gelado e não ter que esquentar o leite de manhã. Mas não confio mais em você, calor. Seria deboche se dissesse que não botava a mão no fogo por você, mas de fato não boto. Pelo menos enquanto outra frente fria me provar que você só veio pra provocar. Não vou nem guardar meus casacos no armário. Se fosse confiável ia até valer a pena ligar o ar condicinado pra dormir e largar de vez os edredons. Mas você não vale o grau celsius que aumenta.
Esse domingo começa o horário de verão, o que seria uma estratégia inteligente para os dias quentes serem aproveitados até o fim do verão. Eu confesso que adoro. Só de ter a sensação de que o dia durou mais, que o sol parece nunca se pôr eu já fico feliz. Mas repito, não confio mais. Tudo pode parecer catastrófico se as estações resolverem trocar de lugar novamente e a gente passar a ter a impressão de que as chuvas duram mais, que os temporais aproveitam mais o dia e o frio não resolva ir pro hemisfério norte. Se eu fosse um credor das teorias apocalípticas de 2012, reforçaria meu argumento me valendo de 2011 como o prenúncio do fim do mundo. Mas não é difícil acreditar que o clima vai continuar louco ano que vem. Se eu fosse um sociopata até deixaria o meu relógio como está, só pra minimizar o impacto.
Não gosto de parecer ativista ecológico, até porque tenho consciência de que posso fazer mais antes de pedir pros outros respeito ao meio ambiente. Não vou cobrar que você escove os dentes com a torneira fechada, nem que faça xixi no banho pra economizar descarga. Assim como também não vou pedir para você instalar geradores de sol na sua casa nem mesmo para que plante uma árvore. Cada um faz o que quer. De fato esse ano começou mostrando isso. E que essa natureza que nos envolve e a gente não dá muita bola, também faz o que quer. Na verdade ela reage. É muito simples. Não preciso levantar bandeiras verdes pra te dizer: se eu gasto demais ela vai me cobrar depois. Com juros. E vai continuar atrasando o verão enquanto eu adianto o relógio.
foto: GettyImages

Um comentário:

Marcela Capobianco disse...

que delícia esse começo de "verão" com chuva e frio. só restou o prazer de acordar no escuro... é triste essa vida. quero férias. calorentas.

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