A sala parecia bem menor, mas os desenhos ainda estavam pendurados na parede. Só as mochilas não estavam mais nos ganchos. Até meu amigo daquela época ainda estava lá, só que brincando com um caderno cheio de nomes, não mais com os desenhos. Os tapetes de cochilar depois do recreio também não estavam, nem mesmo a professora pra acalantar os alunos. O tempo não era mais ensolorado como a gente costuma lembrar quando volta à infância. Tava tudo cinza. E vislumbrando um possível grupo de crianças pela janela, brincando no parquinho, não encontrei ninguém. As poucas crianças que tinham, brincavam na quadra dos grandes, mais cedo do que antigamente. Mas ainda posso dizer que os pais apareceram, com as mesmas caras. Cansados e impacientes ao mesmo modo de quando buscavam seus filhos ao fim das aulas. Mas apareceram. E eu metido naquele meio me senti o mesmo garoto de quatro anos: cheio de perguntas, questões e dúvidas. Muitas delas. Não tava mais ali pra aprender nada. Dessa vez era pra falar do que eu tinha aprendido. E o que eu tinha a dizer?
Por ironia, há 16 anos uma eleição acontecia, igualmente como hoje. Eu era uma mera criança, incapaz de interferir politicamente. Era a fase em que o céu nublava, mas as crianças podiam ver o sol. Eu me encontrava, e podia cochilar tranquilamente depois do recreio. A gente se postava às janelas da sala pra almejar o dia em que pudéssemos usufruir do pátio dos grandes e não de decidir quem ia governar o país. A professora é quem garantia. Falava que a gente era o futuro, que um dia a gente ia brincar naquele pátio e um dia a gente ia cuidar do país também. Ah, mas o futuro é tão distante. Eu lembro que uma colega de turma, numa lucidez infantil momentânea filosofou: que quando eu crescesse eu ia sentir saudade de ser criança se eu não aproveitasse agora. Eu era ansioso demais pra esperar mas acreditei no que ela disse.
Felizmente, na mesma sala cheia de história meus dedos apertaram os botões, talvez sonhando se meus candidatos podiam pensar como aquela menina. Afinal, eles também têm quatro anos.
Por ironia, há 16 anos uma eleição acontecia, igualmente como hoje. Eu era uma mera criança, incapaz de interferir politicamente. Era a fase em que o céu nublava, mas as crianças podiam ver o sol. Eu me encontrava, e podia cochilar tranquilamente depois do recreio. A gente se postava às janelas da sala pra almejar o dia em que pudéssemos usufruir do pátio dos grandes e não de decidir quem ia governar o país. A professora é quem garantia. Falava que a gente era o futuro, que um dia a gente ia brincar naquele pátio e um dia a gente ia cuidar do país também. Ah, mas o futuro é tão distante. Eu lembro que uma colega de turma, numa lucidez infantil momentânea filosofou: que quando eu crescesse eu ia sentir saudade de ser criança se eu não aproveitasse agora. Eu era ansioso demais pra esperar mas acreditei no que ela disse.
Felizmente, na mesma sala cheia de história meus dedos apertaram os botões, talvez sonhando se meus candidatos podiam pensar como aquela menina. Afinal, eles também têm quatro anos.
foto: GettyImages
2 comentários:
muito, muito bom!
acho que aquela era a minha sala da fase 3, a minha seção mesmo não chegou a ser minha sala de aula...
e é ruim mesmo ter que fazer alguma coisa pelo país. ainda mais trabalhar na eleição obrigatoriamente. hj foi tão intenso pra mim que acho que posso escrever um livro, uma tese... mas acho que vai rolar pelo menos um post aqui.
amei seu texto!
meus professores continuam dizendo q eu e meus amiguinhos vamos ser o futuro do país. na verdade, eles dizem "elite jurídica do país". e isso dá um nervoso q eu não sentia quando era criança. crescer dá mt trabalho.
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