quinta-feira, 3 de março de 2011

O último primeiro

Em meio à animação pré-carnavalesca, ao reencontro com os colegas, às novas fofocas e ao começo de um estágio, acabei nem me dando conta de que meu primeiro dia de aula deste sétimo período da faculdade pode ser o último. Na verdade, o último primeiro dia de aula, e não o último dia de aula.
Sempre fui fascinada por primeiros dias de aula. No colégio, ficava tão agitada na véspera que nem conseguia dormir. Deitava, mas ficava horas rolando, pensando nos professores que ia conhecer, nos possíveis alunos novos... "Será que vou ganhar mais uma amiga?" "Será que vai entrar um menino bonitinho?", nas minhas novas canetas coloridinhas e com cheirinho de pipoca, côco queimado, morango, banana, canela, coca-cola, nas novas folhas de fichário que logo seriam preenchidas com aquelas contas doidas, na minha nova mochila, no meu novo tênis... Era madrugada e eu ainda acesa, sentindo o perfume gostoso do material que estrearia no dia seguinte. Na prática, o primeiro dia de aula no colégio tinha raras surpresas. A maioria dos professores eu já conhecia de vista e aluno novo era difícil entrar na minha sala. Se entravam, eu desenvolvia algum tipo de fixação e não conseguia parar de olhar para eles. Ignorava completamente os professores me fazendo perguntas sobre os novatos e, pior, tentando imaginar como eles seriam, em vez de ir lá puxar um papo.
O segundo dia de aula era sempre muito sem graça, menos surpresas e a certeza de que o ano letivo havia começado e eu ia novamente me ferrar em matemática e, mais tarde, também em física, química e biologia.
O primeiro dia de aula na faculdade foi aterrorizante. O medo do trote, o medo de odiar tudo, de querer trancar no primeiro período e o maior medo de todos: não fazer amigos e andar quatro anos sozinha pelos pilotis. Era a primeira vez desde os cinco anos de idade em que eu não conhecia a maioria das pessoas que dividiam aquela sala comigo. Observando aqueles rostos, não conseguia me imaginar conversando com nenhum deles. Os papinhos lugar-comum até surgiram, mas sem liga, etéreos como papos de elevador.
Diferente da época do colégio, o segundo dia de aula no 3º grau conseguiu me surpreender. Encontrei, ali mesmo naquela sala, pessoas que me acompanhariam pelo resto da vida acadêmica e, sem dúvida, pelo resto da vida.
Para uma adoradora de primeiros dias de aula, a faculdade é a glória. Tem dois num mesmo ano! E acho que foi por isso que passou tão rápido. Rápido, mas com o tempo necessário para que eu me tornasse adulta.
Ainda resta um ano inteiro para ser aluna, embora no período que vem eu não vá frequentar aulas, por causa da monografia. Mas tenho para mim que vou ser aluna para o resto da vida, podendo em qualquer esquina me surpreender e encontrar sentimentos dignos de um primeiro dia de aula.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ai, cara, chorei, me identifiquei, nao vejo a hora de me formar, mas nunca tinha pensado nisso.

Anônimo disse...

Ah, o comentario acima foi mariana, o bb nao me pediu meu nome.

Carlos Pinto disse...

Tenho certeza que surpresas agradáveis e GLÓRIAS, viram sempre pra vc. Esteja sempre conquistando sonhos e caminhando do lado do Bem. Te amo. Bjs

Regina disse...

Má,
Gostei muito!! Recordei e revivi as compras do seu material escolar.
Lembrei e senti o cheiro das canetinhas !!!
bjs

João Miller disse...

eu também era fissurado por primeiros dias de aula. especialmente o da quinta série, quando eu acordei tremendo de ansiedade. mais o meu maior medo até o ensino médio era de eu chegar em sala e ver minha turma misturada, longe dos amigos. na faculdade eu já não sentia mais graça não. no máximo o primeiro dia de faculdade. depois é como se fosse um dia qualquer. meu último primeiro então já foi.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails