domingo, 6 de novembro de 2011

Pesar

Falta pouquinho para eu entregar minha monografia, me livrar de todo o peso da faculdade, passar a me dedicar a uma coisa só pela primeira vez na vida, esperar o diploma cair na minha mão e correr para o abraço... Era isto que eu vinha pensando nos últimos dias. Até hoje. Num início de plantão tumultuado, fico sabendo que um colega de profissão foi morto em serviço, durante um tiroteio - algo já corriqueiro para quem trabalha nas redações cariocas - e, o mais alarmante, ele vestia um colete à prova de balas, que até hoje era considerado a segurança do jornalista nos fronts das quase-guerras civis do Rio. Na correria, pensei "que azar". Mas agora, depois de ter acompanhado diversas manifestações do pessoal da imprensa, me deu uma vontade de fugir desse meu futuro iminente. Endosso o coro e pergunto: vale a pena? Não, todo mundo sabe que não. Todo mundo sabe que repórter bom é repórter vivo, que chega na redação com a história para contar. Mas e se não chega? Já era, não dá para rebobinar e desviar da bala. E a gente sabe que não vai haver mudanças drásticas nessas coberturas violentas. Colegas - e eu, por que não? - continuarão arriscando a vida para no fim do dia para tentar contar mais uma história, como outras tantas já contadas. Histórias essas que, muitas vezes, horas depois estarão embalando peixe na feira livre mais próxima. Acho que não exagero em temer o futuro, nem em pesar minhas escolhas. Sei que posso tomar outros rumos dentro da carreira, nunca ter de encarar uma situação como essa, e mesmo assim seguir fazendo o que amo... A vida também pode me surpreender, eu nunca mais pisar numa redação e ser feliz. Mas isso tudo já é divagação. E eu preciso lembrar de que daqui a algumas semanas entrego a monografia, espero o diploma pousar na minha mão e começo a desvendar o que vai ser do meu futuro. Só me resta pedir proteção aos deuses do jornalismo, que diariamente desempenham uma função complicada e dramática. Ei, deuses do jornalismo, me vejam aqui embaixo! E dispensem um pouco da sua atenção a essa foca desorientada!



3 comentários:

Carolina Barbosa disse...

Concordo plenamente. Sempre sonhei em exercer esta profissão, mas ultimamente venho me perguntando, diariamente, se vale a pena. São muitos riscos e poucos benefícios... Gente apaixonada pela motícia que, assim como o Gelson, arriscaria a própria vida pelo amor ao jornalismo. E depois? Morre-se, a emissora manda uma nota de luto e tão rapidamente se é substituído na redação... triste, não? Infelizmente, nossa quase profissão não é valorizada neste país...

João Miller disse...

posso parecer esperançoso em excesso, ou até cego, mas fico sempre torcendo pro seu dia a dia de trabalho ser sempre mais duro e curioso, imprevisível, que você receba tantos esporros quanto os elogios que você merece e te dignificam. tem sempre um empurrão repentino pra testar, é avaliação de rotina, quase darwinista.
bem, espero que seja só divagação sua. a próposito é a nossa 100ª aqui. um brinde e um ode aos deuses do jornalismo! vai em frente, march!

mariana disse...

Ainda outro dia uma colega foi executada com vinte e tantos tiros na porta de casa. E ainda outro dia crianças foram assassinadas na escola. A gente nao ta perfeitamente seguro em lugar nenhum. No dia q eu deixar d viver e d fazer oq eu quero pq eu to com medo eu ja morri.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails