quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Refazendo tudo

Agora essa mania desenfreada de repetir as velhas fórmulas. Taí uma coisa de espírito nostálgico que eu não aprecio muito: remakes. Imagina, uma tendência que faz ressurgir tudo aquilo que já fez sucesso, só porque o homem pseudo-contemporâneo do século XXI quer esbanjar as suas novas tecnologias. Como se gritasse para os antepassados "Olha só como ficou bem melhor". Uma vez ou outra na vida, vai. Mas não acho legal o medo de não querer ser inventivo outra vez.
Quando eu era pequeno eu refazia os meus desenhos de quando eu era menor ainda. Justamente para isso, esbanjar e falar pra mim mesmo como meu traço evoluiu. No fundo era só uma perda de tempo tremenda. O Ninja Morfy e o Firey Boy das antigas tinham muito mais graça. Meu traço novo era sério e careta. O desenho não era mais sujo, nem mesmo espontâneo. Só do álbum do Chaves, que eu fazia dobrando vários papéis ao meio depois grampeando, fiz cinco remakes. E nenhum é tão saudoso quanto o primeiro, de folha de caderno.
Outro dia li no jornal que vão fazer remake de Gabriela Cravo e Canela para a novela das 23h da Globo. Já não basta a insossa remontagem de O Astro. Tudo bem, a montagem vai contar com takes mais bem feitos e a abertura da novela vai ser fiél à antiga além estar em HD. Mas para mim isso tudo é medo de ousar. Cadê os escritores não-Manoel Carlos de hoje? Moldes de tramas de novelas, seriados e filmes que dão certo não passam de corretos. O que sobra é muita ideia boa guardada na gaveta. E outra, saiba que em menos de 10 anos do primeiro vão lançar outro Homem Aranha. E os Hulks? Lá se vão duas ou três filmagens diferentes. Aliás, tá bom de super herói por enquanto. Será que até Capitão Planeta vai virar filme?
Quando se trata de arte ainda acredito nos insubstituíveis, claro. Esses sempre existirão. Dificilmente vão emplacar outros Beatles, outra Elis Regina. E mais longe ainda, outros Da Vincis, Beethovens, Van Goghs. Alheio a toda a admiração ainda é possível criar o novo, viver do "quem sabe...". Minha ressalva é que se possa falar do que ainda não é memorável sem medo de sê-lo um dia. Beber da velha fonte é um pouco de não saber do que as pessoas gostam agora. Justo. Mas essa ideia não vai além de simplesmente remontar.
Imagina: "Paulo Coelho acaba de reescrever Dom Casmurro e diz que dessa vez saberemos se Capitu traiu Bentinho". "Luan Santana adapta músicas de Cartola e Noel Rosa para o ritmo sertanejo universitário e diz 'Tirei as palavras difíceis'". "Mulher Maçã reescreve Canção do Exílio versão proibidão". E por aí vai a tentação de não deixar as coisas como estavam - com uma pitada de exagero. Isso tudo que eu falo aqui é um ode às boas novidades e não uma aversão aos remakes. Estes vão sempre existir, e temos ótimo exemplos bem sucedidos. Quando se trata de reprises então, um bom nostálgico como eu não resistiria. Mas falar do novo é falar sem muita intimidade mesmo. Quase como aquela pessoa que você hesitou em conhecer porque achava que não daria em nada. O meu lema é papel em branco, num quarto trancado sem nada por perto.Ver no que dar, e o "se der errado" são ossos do ofício.
Gil me diz que enquanto o tempo não trouxer meu abacate, amanhecerá tomate e anoitecerá mamão. E tomate e mamão dão a qualquer hora. Abacate já é fruto que precisa de mais tempo. Agora, mesmo um saudosista como eu, que vê mais graça nas coisas do passado, eu termino esse post antipático ao remake e a favor da refazenda com um conselho: plantemos mais os abacates, comendo tomates, mamões e biscoito Fofy - podiam relançar né?

Um comentário:

Marcela Capobianco disse...

Ousado texto. Gostei muito! Os remakes são feitos estritamente pq sabem que vão obter lucro certo... mas nada substitui o frio na barriga de apostar no incerto, né? e eu adoro um remake, mas curto mais uma reprise mesmo.

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