Atire a primeira pedra quem nunca, depois de um dia cansativo de trabalho ou estudo, conseguiu um assento vazio no ônibus e, quando entrou uma pessoa mais velha no coletivo - não idosa, é importante frisar - fingiu que não viu e torceu para que alguém mais bem disposto cedesse o lugar para o passageiro mais velho? Sim, eu já agi deste jeito, sou humana e preguiçosa como a maioria das pessoas que circulam por uma metrópole, mas, geralmente, quando acontecem situações como estas, sou eu a jovem a levantar e ceder o lugar para os mais velhos. É bem chato, admito, quando um idoso finge que não precisa sentar e diz que vai descer logo na próxima estação ou que seu ponto não é muito longe dali. Mas, uma vez em pé, não volto ao banco, e a pessoa para quem cedi o lugar se acomoda uns cinco segundos depois de fazer um charme. Até aí, tudo bem, sou nova, saudável, e só a preguiça ou o cansaço me fazem desabar. Só que, alguns dias atrás, vivi uma história que me deixou estarrecida. Parecia que seria como sempre: estou sentada no ônibus olhando a paisagem de todos os dias quando surge uma senhora de uns 60 anos na catraca. Como ocupo um dos primeiros bancos, trato de dar uma olhada geral para ver se há lugares vazios o suficiente para que eu não precise levantar. Constato que não, e quando a mulher se aproxima, imediatamente levanto e falo que ela pode se sentar no meu lugar. Ela diz que não precisa, penso que se trata do charme de sempre e me levanto. Minha surpresa é que a senhora fica em frente ao banco, mas não se senta. E, passados alguns minutos, nenhum passageiro novo tinha se atrevido a ocupar o lugar vazio. Minha vontade era ir tirar satisfação com a quase-velhinha, mas mantive a calma... Vai que ela tinha algum problema na perna e não podia sentar? Meu ponto chegou, eu segui com minha vidinha, mas desde esse dia não paro de notar pequenos atos de falta de educação. E meu grau de irritabilidade anda nas alturas. No metrô, tenho vontade de empurrar para o vagão as pessoas que, de tão ansiosas e sedentas para viajar sentadas, se posicionam, na plataforma, bem em frente às portas de um trem que elas não vão pegar. O resultado: quase perco o meu metrô porque fico atrás esperando que as pessoas da frente entrem no carro. Já durante o trajeto, sempre em pé, é claro, tenho uma vontade de dar um peteleco - na linguagem politicamente correta - na cabeça dos sem-noção que resolvem parar com as costas coladas às portas. Na hora de sair do vagão, eu de novo tenho que adivinhar se o colega da porta vai sair ou não. E os passageiros que acreditam que contribuem para a felicidade alheia ao colocar um funk ou um sertanejo em alto e bom (?) som no transporte público às seis da manhã? Petelecos nas orelhas deles! E os que atendem o celular - não sem antes deixar que eles toquem por um longo minuto - e falam aos berros, obrigando os demais ocupantes a ouvir e tirar suas próprias conclusões sobre as conversas entrecortadas por buzinas e vendedores de bala? Sou facilmente irritável, intransigente, chata para caramba, tenho plena consciência. Mas, acima disso, sou (ainda) otimista, e acredito que, com educação, nossos mundinhos já melhorariam uns 90%, nem que, para isso, os mal-criados precisem levar uns belos petelecos nas orelhas.
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