Junho é aquela festa. Possivelmente, a fogueira aproxima um pouco a raiz de uma cultura cada vez menos local e atenta, mas que todo mês de São João ainda retorna. Talvez a mesma sensação de alívio comparada ao Natal, também no final de um semestre, que de alguma forma agrega valor quando se fala de começo de férias. Por isso a morte das festas juninas não se deu por completo.
Eu tenho um particular apego a quadrilhas e noites frias de São João, mesmo que um histórico de danças de colégio não justifique. Ainda pequeno, no meio de bandeirinhas e balões de jornal, casais mirins com todo o jeito para a festança e eu trêmulo na hora dos ensaios. Esperava nunca ser aquele que organizava o caracol, aquele que puxava a grande roda, que dançava com a desenvolta no forró. Mas também não queria ser o último porque no "Olha a cobra!" você passa a ser o primeiro. A expertise se vai adquirindo com o tempo. Toda uma maneira de ser tímido, mas aproveitar a festa. Torcer para que o nome saia na rifa, e ao mesmo tempo não torcer, com medo de ter que falar alguma coisa no microfone com todas as atenções viradas para você.
A partir de uma certa idade meu pai ja não podia me desenhar um bigode, nem minha mãe me obrigar a por a camisa para dentro da calça. Um envergonhado sempre com receio de parecer muito à caráter já grandinho, por mais que no fundo quisesse pintar o dente de preto, fazer monocelha para curtir a festa de santo homônimo. Que o chapéu de palha fosse discreto e lenços sem caixinhas de fósforo. Esperava apostar pouco em brincadeiras bobas caça-níqueis, gastar mais em bombinhas para soltar ao final. Não encontrar a professora antipática na fila que vai à caráter e fala tão sorridente com você quando está com seus pais.
No mais, não passa de passado. E por isso festa junina se tornou o grande reencontro de escola. Das antigas damas que cumprimentavam tão bonitinho os cavalheirinhos desajeitados, tem as que aparecem bem diferente, sem chapéu de trancinha, com novas coisas na cabeça. Casais ainda firmes desde o passeio dos namorados, novidades que não cabem mais na quadra ou nas mensagens do correio do amor. Mesmo que a festa junina continue como cócegas no meio do ano, Gal irá cantar incansavelmente "Festa do Interior" na mesma medida que Simone "Então é Natal".
O curioso é que de festa junina ninguém se cansa, reclama ou fala mal. É uma breve regionalidade que ainda cabe acontecer uma vez por ano. Às vezes pretexto para beber quentão no inverno difícil de tomar chopp gelado. Mas a pureza de pular a fogueira, olhar para o céu e ver que lindo, morder com força a maçã do amor, curiosamente ainda fica, mesmo que só na essência dos fiéis sanfoneiros. O xote e o baião ainda estão intactos, não precisam de inferências moderninhas pegajosas para serem apreciados pelo menos uma vez no ano. E torço para que se mantenha assim, antes do apocalipse das músicas com onomatopeias dominar o mundo e o melhor que a gente tem de cultura se perca por aí.
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