Passei, portanto, por esses breves três anos que pareceram longos nas primeiras reuniões de amigos com pedidas de pizza que traziam um refri de graça. Meu copo logo cheio de água até a boca, para satisfazer uma imaginária abstinência daquele suco gasoso que não fazia senão acionar breves interrompidas na conversa. (Mas sabe que uma - pausa - vez...") Nada melhor do que ver quebrar o protocolo dos mais pomposos que elevam seus dedos a boca para interromperem o caminho natural das coisas. A filosofia do arroto parecia mais interessante, embora eu começasse uma oratória linear e um vício bem mais sem graça: o mate. Sendo o limão ou o natural, a mesma função psicológica de um chiclete de nicotina. Pois é, depois acostuma-se, gosta e até sente falta. E tem uma família inteira para te acompanhar. Ice tea, chá da casa, chá verde, chá do escambal. Mas uma hora enjoa e te enerva. Só que passados três anos sem refrigerante o orgulho e a persistência te fazem resistir e se conformar com o ritmo de vida inglês dos trópicos.
Já a uma altura quase capaz de dar palestras em universidade, minha experiência sem refrigerante tinha virado uma obsessão. Algumas vezes em festas de aniversário aqui de casa - e são todos eles em épocas quentes - abria a geladeira e me deparava com um mar de garrafas de refrigerante dominando uma vastidão de garrafas d'água vazias, e mesmo assim certo a beber água a temperatura ambiente. Quando mesmo, num breve ato de loucura, abrindo uma Coca Cola só pra ouvir o "tsss", sentir o cheiro e me dar por satisfeito. Por dentro eu estava suspirando, mas por fora figurava indômito.
Um dia no trabalho o prazo mais uma vez apertou e ideias se reconfiguraram. Submetido a uma pressão nada mais do que temporal, o raciocínio de quase 20 horas trabalhando estava comprometido por clicks repetitivos de mouse e o silêncio atordoante de uma sala vazia. Na milésima vez que fui a copa para beber mais um copo nervoso de água, já exausto, com os olhos cansados de olhar para o monitor, uma luz vermelha e soberana ofuscava o ambiente. E se eu botasse menos drama nessa história ninguém acreditaria que de fato a Coca Cola de cima daquela geladeira estava predestinada a ser minha. Trezentos e cinquenta mililitros que poderiam ser revertidos em quem sabe mais uma hora de atividade cerebral e o trabalho no prazo. Peguei um copo, e dividido entre o filtro d'água e a geladeira, o diabinho de vermelho no meu ombro, fantasiado a caráter me fez decidir a ouvir o "tsss" e ser feliz.
Agora eu bebo Coca, mas só Coca. Pouco mais de uma vez por semana. Sou livre. Foi quem sabe uma nuvem negra ou a subversão do sistema. Mas que se dane, tenho três anos de - pausa - saldo.
2 comentários:
eu quero chá!
e não bebo refrigerante há cinco anos. hahahahahahahahaha
5 anos? ah tá
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