terça-feira, 5 de março de 2013

Azarada, eu?

Adoro dizer que sou azarada. E não é para menos. Meus amigos costumam dizer, ao ouvirem alguma história escabrosa e casual saída dos meus lábios: "Coisas que só acontecem com ela". Mas eles sabem que não gosto de tirar onda, nem de me fazer de coitadinha. Pelo contrário, sou a primeira a rir das minhas desventuras, e também a primeira a passar por cima do infortúnio, erguer a cabeça e, em dois segundos, estar pronta para outra traulitada da vida. Já disse aqui que nasci num dia 13, então me identifico com o injustiçado gato preto e com as escadas que atravancam calçadas - trabalhando para melhor atender à população -, e já estou bem acostumada a suar para conseguir coisas que, teoricamente seriam simples. Na semana passada, estava sentada no ônibus, vendo a paisagem de todos os dias, um pouco entediada com a mesmice da volta para casa, quando tive as primeiras ideias para esse texto. Achei que seria engraçado contar algumas histórias cujos finais não são muito inspirados nos contos de fadas. Meus contos urbanos, corriqueiros e cômicos. 
O sinal que fecha e me faz assistir de camarote à partida do ônibus que demora meia hora para passar; a chuva que resolve cair bem no dia em que esqueci o guarda-chuva; o esmalte que, ainda cremoso, encosta no botão da calça e faz com que treze reais sejam figuradamente jogados no lixo; a máquina de vale refeição que quebra logo na minha vez de pagar o lanche; a roupa linda disponível em todos os tamanhos, exceto no que cai perfeitamente em mim; o ingresso que esgota quando clico em "comprar"... Isso sem mencionar os dois assaltos praticamente no mesmo lugar e o furto ridiculamente bobo e ainda não superado. 
Acontece que, ali, no banco do ônibus, enquanto rememorava esses fatos, fui me dando conta de que eles são todos muito pequenos, e que eu devia sentir vergonha de expô-los, ainda mais por escrito. Quem não se dá mal quase todo dia no ponto de ônibus, já que o nosso sistema de transporte chega a ser inacreditável, de tão pífio? Que mulher nunca estragou um esmalte? Ainda existem pessoas que nunca foram assaltadas numa grande metrópole? O que elas fazem? O que comem? Como se reproduzem? 
Não sei se foi porque começou a tocar Novos Baianos nos meus ouvidos, ou porque o ônibus acelerou e não ficou agarrado naquele cruzamento chato, mas eu percebi que, na verdade, precisava escrever um texto que servisse como um agradecimento. Não sei se a Deus, a Alah, aos quartzos rosa, ao oxigênio, às pessoas que me aguentam... Tenho saúde, um emprego, um diploma e é bem raro atravessar um dia inteirinho sem dar uma sonora gargalhada. O engraçado foi que, nesse mesmo dia, descobri que por pouco tinha escapado de um outro assalto e, hoje, quando finalmente sentei para escrever, percebi que escapei, também por questão de minutos, de uma das maiores enchentes do ano. 
Acho que sorte e azar, no fundo, são meio que a mesma coisa, ou então, dois lados de uma moeda. Até porque, um não existiria sem o outro. Cabe a nós, afortunados ou desditosos, virar a moeda. E agradecer, sempre, à sorte e ao azar.

Um comentário:

Carlos Pinto disse...

E a vida segue... e com certeza jamais a moeda ficará em pé. Bjs Papi

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