Marcela Capobianco está resfriada.
Mas não por isso deixou de ir à academia na noite desta terça-feira. O
nariz deu uma leve escorrida lá para os treze minutos de esteira, mas
ela fungou e continuou a caminhada forte. Alguns minutos antes, na sala
de musculação, ela bateu com um aparelho na cabeça de uma adolescente.
Morreu de vergonha, quis abrir um buraco no chão e nunca mais aparecer
ali. A menina foi simpática, disse que não estava doendo e tratou de
sair de perto. Marcela se perguntou o que estava fazendo ali, em meio a
saradões e barrigas-negativas. Acabou caindo na gargalhada sozinha. Isso
é bem do feitio dela.
João
Miller evita esse tipo de ambiente correndo no playground do prédio em
que mora. Ou pelo menos ele diz que corre. Pessoas próximas juram que
ele está sedentário. O trabalho é pesado, às vezes ele rala literais 24
horas seguidas. Não à tôa, João anda cochilando em mesas de bar. Para
ficar acordado, ele apela para doses de coca-cola. O rapaz conseguiu
passar boa parte da adolescência e o começo da juventude sem beber
refrigerante, mas a dureza do cotidiano o impediu de continuar uma vida
regada a ice tea e matte leão, tão prejudiciais quanto os gaseificados.
Marcela afirma que não toma refrigerante. Mas é mentira. Ela até rejeita
no dia-a-dia, mas apela para um coca-zero bem gelada quando enfrenta
uma TPM braba ou quando acorda de ressaca. Em viagens, os dois se
entopem de refrigerante, e adoram experimentar sabores que ainda não
chegaram ao terceiro mundo. Ela se apaixonou pela acidez da fanta limone
na Itália, enquanto ele curtiu a doçura da fanta cassis na Holanda.
Falando
em doce, aí está uma unanimidade entre os dois. Na infância, ele
escondia guloseimas dos irmãos e perdia a linha nas festinhas do melhor
amigo de mãe doceira. Resultado: o dia seguinte era dominado pela dor de
barriga. Ela aprendeu a fazer brigadeiro de panela quando mal alcançava
o fogão. Quando passava as férias na casa da madrinha, no interior,
exagerava com os primos e se jogava no doce ainda pelando. Resultado: em
cada banheiro da casa havia uma criança "descarregando" brigadeiro. Ai
de quem quisesse fazer xixi. Bons de garfo, João e Marcela cresceram
brigando com a balança. Ou simplesmente não pisando nela. Exercício era
chato e comer era muito mais divertido. Poucos sabem, mas ela sequer
aprendeu a andar de bicicleta - e tem essa lacuna até hoje. Ele tinha
dificuldades em se equilibrar nos patins por causa do pé chato, que
nunca foi corrigido.
Semiconhecidos
dizem que eles são completamente pirados. Já os amigos mais chegados
estão acostumados às peculiaridades de cada um. Ainda mais quando tem
bebida no meio. Todos sabem que ele está "altinho" quando começa a fazer
malabarismos com garrafas. Ela tem mania de interagir com desconhecidos
quando já tomou uns gorós. Esse hábito, aliás, espanta o tédio em
nights chatas. Quem mais sacaria o celular para ouvir e dançar Khaled no
meio de uma festa alternativa? Só mesmo esses dois jovens amigos...
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