Peguei o avião e aquele frio na barriga. Acho que a ficha caiu. De repente, um avião. E eu sentado esperando decolar. Até ontem era uma conversa, um livro de viagem aberto, um roteiro pela metade. Putz, eu não fiz roteiro. Putz, vai ser incrível!
A aterrissagem, a mala de mão no bagageiro, meu fone enrolou, o passaporte não está no meu bolso. Saí do avião com pressa e uma fila enorme na imigração. 7 da manhã. A moça extremamente simpática perguntou se era minha primeira vez no país, eu disse que sim. Enjoy! Lá fora a manhã estava cinza, acho que é porque era uma segunda-feira. No caminho, saindo do aeroporto em New Jersey, um pedacinho do que parecia um amontoado de prédios enormes ao longe. E acho que aquele é o Empire States. Começa a tocar Frank Sinatra na minha cabeça.
Um vento frio me dava boas vindas na calçada da Central Park West, e eu sem estudar o metrô caminhava por ali até dar em não sei onde - essa foi sempre minha melhor rota. Na rua taxis, schoolbus, ciclistas, carrinhos de sorvete, motoristas possivelmente reparando meu sorriso deslumbrado. Alguém deu play em algum filme e eu entrei por acaso.
Foram 14 dias nesse ritmo. A sorte é que Nova York é uma cidade incansável, mesmo para pés chatos como o meu. Deu para entender o porque de tanto. Cabe de tudo, tem de tudo, fala-se de tudo, vê-se de tudo. O pedestre é um mero agente, a experiência é só sua. Você e a cidade. Os parques, os museus, as ruas, os prédios com escadas de incêndio do lado de fora, os arranha-céus, o detalhe, o exagero. Para todos os gostos. Acredito que cada um visita uma Nova York diferente, mesmo quando já não é a primeira vez lá.
No metrô o encontro de todos os tipos, a personificação da cidade. Não só as diferenças de estilo, ou de cultura mas provavelmente cabeças extremamente opostas que circulam por Nova York a todo instante. Pessoas que nunca imaginariam se encontrar ali, algumas delas se entreolhando nesse microuniverso, outras desinteressadas em olhar quem sentou do seu lado sacando seus tablets e laptops ali mesmo. Um espaço-tempo improvável que eu participei e tornei mais improvável ainda quando fiquei amigo de uma senhora de Oklahoma que estava perdida como eu. Nos ajudamos e provavelmente nunca mais vamos nos ver na vida.
Fora os outros encontros, de quem me mostrou e me ajudou a conhecer melhor a cidade. Os cinco dias com minha prima Natasha, dos quais conhecemos a parte turística em tempo recorde, andamos pela Brooklyn Bridge, conhecemos o Harlem, a Columbia University, ficamos perplexos com a claridade paralisante da Times Square à noite e com a simpatia dos atendentes de toda e qualquer loja que entramos. Também com o Tom, meu amigo residente e já praticamente americanizado, me guiando no MoMa, me mostrando as lojas nerds, a feira da Union Square, fazendo um tour no Brooklyn e batendo o melhor dos papos no Williamsburgh Park. A Mafê também, que chegou um dia antes de mim mas chegou pra ficar - sorte a dela. Comemos o melhor hamburguer do mundo no Spotted Pig, fomos para a noite mais divertida no Fat Cat - um bar incrível com jazz ao vivo, ping-pong e outros jogos - o passeio no Bryant Park, o jantar no Chelsea Market e as voltinhas por aí nas conversas mais deliciosas sobre o que era aquilo tudo ao nosso redor.
Nova York me abraçou exatamente como me diziam. Voltei mais ainda com a impressão de que as coisas não devem terminar em si, no sentido de que tudo deve se encontrar para acontecer. E Nova York é incrivelmente onde as coisas se encontram e acontecem. Pelo menos grande parte delas.
Volto logo. Foi incrível.
Volto logo. Foi incrível.
2 comentários:
Mais uma vez um texto fantástico.
Me fez ter vontade de arrumar as malas agora e partir rumo ao desconhecido.
Mais uma vez um texto fantástico.
Me fez ter vontade de arrumar as malas e partir rumo ao desconhecido.
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