Alguns sabem da verdade. Artilheirinho não tem muito desafio. Foi feito para o pereba sentir que joga bem futebol. Aquele cara que chuta de bico, leva bolada na cara, tropeça driblando e só chuta na trave. Muitas vezes acima do peso, com a chuteira tinindo de nova e que as vezes desiste e pede para ficar no gol. Mas perde, espalma e faz escanteio, leva ovinho, dá passe errado. Quem gosta de artilheirinho pede a bola e não recebe, e quando recebe chuta para fora ou acaba pisando no pé de quem está marcando. Nunca dá briga, quem gosta de artilheirinho é incapaz de matar uma muriçoca. Os outros sabem disso. A porrada estanca quando dois craques se desentendem. Aí sim sai sangue, vem o pai para separar, o jogo para, xingamento para todo o lado. O outro pensa "Se a gente tivesse jogando artilheirinho..." Mas ele nunca é ouvido em campo. Quando já dá a hora do silêncio no prédio, quando os vizinhos começam a reclamar, ele tenta parar a bola. Geralmente é quando vira porradobol. Quem gosta de artilheirinho é ruim até no porradobol. Não acerta ninguém, mas leva bolada nas partes.
No outro dia ele acha que está melhor. Ontem era fase. Chega na quadra quando estão montando o time. Mas quem gosta de artilheirinho é sempre o último a ser escolhido e fica na "de fora". Quando o jogo acaba quem não gritar "dentro ou fora" é porque papou mosca, perdeu a vez. A regra é clara. Quem gosta de artilheirinho sempre papa mosca e fica duas rodadas no banco. Mas quando entra as vezes dá até sorte. Entra no time daquele que joga bem e tem paciência com quem gosta de artilheirinho. Esse geralmente toca muito mais a bola, dá chance para o pereba, tem pena dele, não xinga. Mas também não perde a bola nunca, sempre abre muito o placar antes de tocar a bola, é autossuficiente, não precisa de assistência, faz gol olímpico, de bicicleta, cabeça, peixinho. Nasceu para jogar bola. Quem gosta de artilheirinho de fato não nasceu para jogar bola, nasceu para jogar artilheirinho.
E contar essa história.
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