domingo, 14 de julho de 2013

Um crush no candy


Eu fecho os olhos e vejo um monte de formas geométricas em cores berrantes e apetitosas. Algumas têm listras, outras vêm empacotados, e alguma coisa no meu cérebro me faz querer juntar os docinhos iguais a fim de destruí-los o mais rápido possível. 
Sim, estou convicta de que escrevo com atraso. E ouso dizer que a meia dúzia de quatro ávidos leitores deste blog estão frustrados porque, depois de quase três meses ausente - foram 40 dias de férias, galera!!! - volto para divagar sobre um joguinho de celular, e não sobre a "primavera brasileira" (??), assunto que nos últimos 30 dias tem sido soberano, inibindo até as acirradas disputas de fase no Candy crush. 
Mas nesta tarde de domingo ensolarada, na qual ainda me encontro de pijama e espero meu número de vidas aumentar para me entregar ao vício sem muitas interrupções, parei para ler a coluna do Caetano - deliciosa, por sinal - e tive a certeza de que, se ele e o Almodóvar podem escapar da crise, eu também posso desfrutar deste luxo. 
O Candy crush foi um tapa na minha cara. Sou conhecida pelo desempenho catastrófico em 99% dos jogos que existem no mundo. Daqueles que necessitam de uma bola eu corro, mas não muito, porque fico cansada rapidinho. Dos que exigem uma mente rápida para fazer cálculos eu tenho aflição. Naqueles todos trabalhados nas cartas eu sou café com leite - deve ser porque até hoje confundo ouros com copas e espadas com paus. Para os de computador e celular eu nunca tive paciência porque sempre empaquei nas primeiras fases e não tinha força de vontade para seguir em frente. Enfim, restaram-me a adedanha - sou craque na de papel -, a mímica - resultado dos anos de teatro - e alguns poucos de tabuleiro recheados de perguntas esdrúxulas sobre pessoas famosas. 
Eu me amarro numa modinha e baixei o tal jogo das balas crente de que ele seria mais um que eu exploraria por uma semana, empacaria num nível ridículo e cansaria, tratando logo de migrar para uma nova onda. Aí veio o tapa na cara. Porque eu me viciei. Bastante, para os meus padrões. Ainda não estou naquela secura de mendigar vidas e confesso que é um alívio quando elas acabam e, portanto, sou obrigada a esperar alguns minutos para voltar a jogar. Penso que é hora de viver um pouquinho, olhar para os lados, ler o máximo possível sobre os temas que não querodiscorrer aqui no blog... Por enquanto, me recuso a usar o macete de trocar a data nas configurações do celular para que eu possa usar as novas vidas logo. Só não sei se essa postura ética vai continuar valendo daqui a uns dias. 
O que me conquistou no Candy crush é que ele não precisa de estratégia. Os docinhos não vêm sempre na mesma posição, apesar da fase não mudar. Não enjoa, não dá a impressão de estar empacado, e eu sei que a única forma de ultrapassar o nível é tentando insistentemente, de várias formas diferentes e estimulando uma, digamos, visão global. 
É ou não é uma metáfora da vida? Existe estratégia para isso que a gente vê se desenrolar - e se enrolar - bem debaixo do nosso nariz? Qual é a melhor forma de resolver um problema, senão enfrentando-o e enxergando-o de diversas maneiras? A vida, nada mais é que avançar de nível, passando por sufocos. Fui longe. Ou será que o vício já está afetando a minha percepção? Não sei, vou refletir enquanto tento galgar posições no universo lisérgico que domina meu corpo e minha alma. 

PS: acho que estou mais incomodada que os quatro leitores ávidos, então recomendo a leitura de um texto lúcido e analítico, do meu ex-colega de trabalho Luciano Trigo. Eu bem queria ter escrito essas palavras, mas ainda tenho muitos doces a destruir pelo caminho literário.

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