segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Mitos de ponte aérea


Paulista dá só um beijinho no rosto quando vai cumprimentar alguém. Carioca dá dois. Vira e mexe, quando um paulista e um carioca se cumprimentam, o carioca morre de vergonha porque acaba beijando o nada ou então, na pior das hipóteses, quase tasca um selinho no paulista que, depois de ter mandado o primeiro beijinho, fica imóvel. Daí você pode concluir que cariocas são efusivos, calorosos, festeiros, dados... E que paulistas são secos, práticos e até antipáticos. Mas você conclui errado. Ou de forma precipitada. Eu sou uma carioca convicta - apesar da minha carteira de identidade não mostrar isso - e, na semana passada, fiquei em São Paulo trabalhando e estudando. Lá pelo quarto dia já cumprimentava as pessoas com um beijinho só, tipo uma paulistana nata. Mas acho que isso aconteceu porque todo santo dia, quando eu chegava no trabalho, era cumprimentada efusivamente pelos paulistas com o tal do beijinho. Achei isso muito estranho, porque eu mal beijo e abraço o pessoal lá de casa... Quanto mais os colegas de trabalho, que vejo todos os dias, no mesmo horário, sentados nas mesmas baias, quase sempre com os mesmos sorrisos carimbados nos rostos. E aí os secos são os paulistas? É isso mesmo?  Esse tempinho que eu passei em São Paulo serviu para derrubar alguns, digamos, mitos da ponte aérea. De manhã, eu pegava um ônibus quase vazio e, em menos de 15 minutos, estava na porta do trabalho. Nada de trânsito, nada de transporte lotado. É claro... Fiquei hospedada mais ou menos perto de onde trabalhava, e só entrava no ônibus depois das 9h, quando o rush matutino perde a força. Aqui no Rio eu também moro mais ou menos perto do trabalho mas, mesmo fora do horário convencional de rush, de vez em quando pego um trânsito louco, daqueles de cidade-sede de olimpíada, sabe? Dizem que o paulistano é estressado, vive correndo e só pensa em dinheiro. Mas eu enfrentei uma fila um pouco demorada na Starbucks porque a moça do caixa ficava decorando as letrinhas dos nomes escritos nos copos. E ninguém reclamou. Muito pelo contrário... Engravatados abriam sorrisos quando eram chamados ao balcão para buscar as bebidas. Como não ter fé na vida ao se deparar com uma livraria gigante, tão gigante que uma réplica de esqueleto de dinossauro em tamanho real parece pequena dentro dela, lotada, cheia de gente sentada no chão agarrada a um livro? As noites na Avenida Paulista eram tão animadas, coloridas e cheias de gente na calçada que eu só conseguia pensar na Times Square, em Nova York. De um lado, um trio de velhinhos tocava algo que lembrava uma charanga antiga. Do outro, um negão entoava um Djavan. Mais à frente, um cabeludo solava na guitarra... E as pessoas paravam para ver, ouvir, cantar e pingar moedinhas em chapéus tímidos. Tudo isso numa quarta-feira gelada do mês de julho. Aí você pode pensar "ah, mas era época de férias... Fica tudo muito mais tranquilo". É, pode ser, e eu não tenho mesmo como comprovar. Mas sei que uma semaninha em São Paulo me fez respirar fundo o ar poluído - nem tão diferente do balneário em que moro - e, meio sem querer, me fez sentir a vida. Na correria, a gente acaba se esquecendo... E é muito bom se reencontrar com a gente mesmo, seja numa ladeira íngreme ou numa esquina de Ipiranga com São João. 

Um comentário:

Melry disse...

"Daqueles de cidade-sede de olimpíada" é o novo "imagina na copa"? Hahahaha
Mas, fora isso, to cada vez mais suspeitando q a vida vai acabar me levando pra são paulo...

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