quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Trabalhos (In)voluntários

O despertador toca às 6h20. Eu estaria atrasada, mas é um domingo. A opção soneca me permite alongar o sono por cinco minutos que parecem durar cinco segundos. Tomo um banho para tomar outro logo em seguida, só que de chuva. Encharcada, chego ao meu eterno colégio. Pelo menos é num lugar familiar que vou passar seis horas em pé indicando seções eleitorais para toda uma sorte de desconhecidos, pseudo-conhecidos e conhecidos. As seis horas parecem durar seis dias. Evito olhar o relógio, mas a quantidade de músicas que se sucedem no fone de ouvido parecem querer dar uma pista. Ao todo, 127 músicas serviram como pano de fundo para a experiência. Digo pano de fundo porque não consigo nem lembrar de três músicas que ouvi. O que ouvi bem, e sem parar, foram reclamações. Nesse trabalho nada voluntário, me dei conta de uma coisa clara, que já quase ninguém duvida: não temos mais educação. Se é que já tivemos alguma. A experiência terrível que eu queria esquecer o mais rápido possível continuou martelando na minha cabeça. Convicções políticas a parte, a confirmação do segundo turno já apareceu como um fantasma para me lembrar de que eu logo repetiria a dose.
Na quinta, o despertador tocou às 5h30. Sem chances para a soneca, porque uma longa jornada até a Favela do Pavão-Pavãozinho, em Ipanema, esperava por mim e pela Incrível Companhia. Desta vez, o trabalho era voluntaríssimo, e eu levava um sorriso no rosto.
Sem dúvida, foi a mais louca das apresentações d'O Alienista. Tivemos que derrotar vários adversários: o calor, a subida, um andaime no meio do palco, um camarim sem espelhos, sem papel higiênico, sem cadeira e com um agradável cheiro de xixi. Mas o maior dos adversários foi o público: crianças. Para assistir a uma peça que não é para criança. Não que haja censura contra Machado de Assis, mas convenhamos que o entendimento de um texto cheio de melindres e vocabulário pomposo é complicado até para adultos calejados. O desafio foi para nós, os atores: tentar prender a atenção daquela galerinha nem um pouco acostumada ao teatro, muito menos ao teatro literário que fazemos. Não conseguimos derrotar este adversário. Pode ser culpa nossa, uma companhia estreante, amadora e até mesmo acomodada com bons públicos. Mas algo me dizia que a falta de educação que tanto me incomodou no domingo tem uma relação bem próxima com o que aconteceu na quinta.
Sinceramente, não sei qual é o caminho prático para que esta situação se reverta. Me pergunto se um trajeto possível é aquele iniciado no momento em que entramos na cabine de votação e apertamos uns botõezinhos. Talvez estejam faltando despertadores que tocam na hora certa.

foto: GettyImages

2 comentários:

mariaana disse...

eu noto q as pessoas, mesmo sem querer, não têm educação. não é simplesmente não ter educação com pessoas q se pensa q não se tem a obrigação de ser educada pq nunca mais vai ver na vida, mas tb educação com pessoas conhecidas. quer dizer, não é só não ser educado quando não se quer ser educado, pq se acha q não precisa, mas tb não ser educado qd se devia, pelo menos em tese, ser educado, pq a pessoa com quem se está sendo mal educado é um amigo. e acho q as pessoas não fazem isso por mal; simplesmente acham q não estão sendo rudes. outro dia uma amiga foi discordar de um outro amigo, q achava alguma coisa sobre alguma prova - uma coisa banal - e falou "claro q a professora não vai fazer isso, gente, acorda!" não sei se sou fresca, mas achei o tom e o "acorda" de uma grosseria tão gratuita... tipo, era um assunto idiota, uma discussão idiota, e uma resposta rude a troco de nada... acredito realmente q ela nao fez por mal, acho q ela simplesmente não notou a falta de educação. e acho q isso é mt frequente - as pessoas perderam a noção do q é ser educado. de tanto ser mal educado com pessoas aleatórias, pq "nunca mais vou ver na vida", as pessoas nao sabem mais oq é aceitável.
outro dia eu tava saindo da garagem de carro, e o sinal tava fechado, então não dava pra eu entrar na rua propriamente, tinha um carro na frente. aí cheguei um pouco pra frente com o carro, sem querer. eram 6 horas da manhã, mas isso nao impediu o motorista do carro q tava parado na minha frente de abrir o vidro e gritar, TOTALMENTE alterado "vai bater, porra? vai bater? custa esperar?". fiquei tão chocada q não fiquei com raiva. fiquei com pena. se a pessoa já tá nesse estado às 6 da manhã, imagina às 4 da tarde. se ela é tão agressiva assim a troco de nada, deve achar normal. ou seja, devem tratar ele assim toda hora. e isso é triste.

Mijo de Pombo disse...

O caminho é fácil. PAREDÓN!

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