terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Vai que desanda

No meu trajeto até o ponto de ônibus não pude me esquecer de não pisar nas linhas dos ladrilhos da calçada. E se o branco contrasta com o preto de outros ladrilhos, escolho um pra seguir caminhando, a despeito das dificuldades que um pedestre como eu tenha de lidar, aos pulos e quase entortando os pés. Para o sinal que não fecha são precisos 21 apertos de botão, e mesmo se não ocorrer de parar imediatamente, ele haverá de parar um hora. Ainda numa inconstância de passos largos e curtos, me desvio dos acessos únicos da calçada por debaixo das escadas de obras, e até dos andaimes - se for por alguém considerados do mesmo gênero. Os tampos de esgotos só servem os fechados. É melhor não pisar nos vazados ou naqueles que ventilam forte. Ouvi dizer que um pedaço da alma vaza também.
Pronto, já posso ficar no ponto esperando projetar meu dedo pro ônibus correto. Posiciono meu pé direito e subo. É sempre bom averiguar no contador da roleta se o número é par; se não for que seja múltiplo de cinco. Mas é ímpar, alguma coisa vai desandar. Sento em qualquer assento, ao lado de uma menina que brinca com o celular. São 18:18, e timidamente ela beija a tela. Essa eu já ouvi, mas não sei pra que serve. Não uso. O beijo não dura muito, mas o percurso continua. Eu vejo da janela um gato preto e torço pra não passar na frente do ônibus. Foi por pouco, mas passou na frente de uma senhora. Deus a assegure.
Cheguei no meu prédio e naturalmente conto até o 13º degrau. Esse então eu pulo, mas ironicamente é daqueles maiores que servem de intervalo pra um escada longa. Me sustento no corrimão pro 14º e tá feito. Agora de preferência pego o elevador direito. Estou em casa e tem gente. E contando o meu dia me esqueço das linhas do taco da sala e inevitavelmente piso em todas. Às 21:21 estou pronto pra sair. O elevador esquerdo chegou. Tem gente me esperando lá embaixo, e eu nem sei qual é o 13º degrau da descida. Vejo uma senhora conhecida sorrindo toda vida e entro na carona. Tem uma mesa livre debaixo daquela escada.
Cheguei em casa nao me lembro como. Mas nada desandou.

Um comentário:

Marcela Capobianco disse...

muito bom!
e vc escreveu no dia 11/1/11

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