terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Entrando para as estatísticas

Uma das poucas certezas que o carioca tem na vida é que ele não vai passar essa encarnação sem ser assaltado pelo menos uma vez. Para mim, tudo corria numa falsa e traiçoeira sensação de paz há quase 21 anos. Até que, aos 44 do 2º tempo, quase na despedida da lira dos 20 anos, entrei para a estatística. Ou saí da estatística daqueles que seguem vivendo sem ouvir o famoso "é um assalto".
Saía tranquila do meu 7º dia no novo estágio, sorri porque o sol ainda brilhava para mim, apesar do relógio do meu quebrado celular me informar que já eram 19h15. Sorri porque iria encontrar um amigo que não vejo há um mês. Seguia para a entrada do metrô quando encontrei um outro amigo que não via há mais tempo. Trocamos umas palavras, combinamos um chopp qualquer dia desses e ele entrou no carro da namorada. Acenei um tchau e um segundo depois pensei que devia ter perguntado para onde eles iam, vai que eu conseguia uma carona? Aí, não sei porque, me deu uma preguiça de pegar um metrô cheio até a General Osório, subir aqueles 298437 degraus da estação e esperar não sei quanto tempo para entrar no ônibus que me levaria até o Leblon. Resolvi simplificar e pegar só um ônibus. Cheguei ao ponto e perdi o ônibus que poderia me levar para o Leblon, afinal eu nunca tinha pegado um ônibus ali e nem sabia quais passavam por lá. Verifiquei ali mesmo na plaquinha que podia pegar o 572, que tinha acabado de passar, e o 172, que não tinha passado ainda. Esperei uns dez minutos, estava quase voltando para o metrô, mas a lembrança das escadas da General Osório me faziam pensar que era melhor continuar ali. Enquanto ponderava comigo mesmo, se aproxima um rapaz com uma criança. Se dirige à mim. Me preparo para responder algo sobre os ônibus que passam ali ou informar as horas. Coitada. Ouço um: "Isso aqui é um assalto, passa logo o celular e o dinheiro, senão te estouro". A ficha demora meio segundo para cair. A primeira vontade é rir. A segunda vontade é gritar e sair correndo. Mas lembro da minha mãe dizendo: "Não importa, quando acontecer você entrega tudo o que ele pedir". Assustada com a minha calma, tiro o celular da bolsa e entrego para o meu assaltante. Abro a carteira dentro da bolsa, tiro a carteira de identidade sem que ele perceba e entrego os 15 reais e o dólar da sorte que estavam na minha carteira. Entrego. Não vou pagar para ver se ele tem uma arma, vai que ele me estoura mesmo e eu não vivo nem para ver meus 21 anos chegarem. Ele observa se eu estou de relógio, quase vai embora, mas pede para ver a minha bolsa. Eu penso que vai ser uma merda ter que ir na delegacia dar queixa e depois refazer minha identidade e meus cartões. "Não tem nada na minha bolsa, moço. Só meus documentos. Deixa eu ficar com eles". "Mostra a carteira". Ufa, pelo menos salvei meu iPod. Pego a carteira "Tá vendo, moço? Já te dei o dinheiro. Aqui só tá meu cartão refeição" "Entra num ônibus", diz o meu assaltante. Nenhum ônibus passa nesse momento. O outro cara que estava no ponto, um pouco mais a frente, olha para mim e continua lá, na dele. Vejo um táxi, faço sinal e entro. Me sinto segura. Digo que acabei de ser assaltada e peço para ele me deixar em Laranjeiras. "Laranjeiras? Iiiiih, tô levando uma hora para chegar em Laranjeiras". Penso putaquipariu, se a minha mãe me ligar e o assaltante atender? Ou não atender? Ela vai ficar desesperada, entrar em pânico. "Moço, me empresta o seu celular para eu ligar a cobrar". "Iiiiih, meu celular tá tão sem crédito que nem tá ligando a cobrar". Merda. "Você não vai querer ir dar queixa, não?". "Não".
Em casa, tranquila, me perguntam a mesma coisa. Nego mais uma vez, e ainda brinco dizendo que deixo para a próxima vez. "Mas aí você não entra para a estatística". Penso um pouco. Não entro para esta estatística mas entro para aquela outra dos que reclamam, se estressam e continuam na mesma. Não. Resolvi me abster. Mas continuo na dúvida. Deve ser porque ainda sou iniciante na área...

4 comentários:

mariana disse...

dislike.

REGINA disse...

Má,
Senti um vazio por dentro quando seu pai me falou. Na mesma hora pensei porque não foi comigo ao invés de ter sido com ela???
Mãe quer sempre proteger sua cria!!! Mas não tem jeito. Estamos expostos a todo momento. Só temos é que pedir sempre proteção à Deus!! E ainda temos que agradecer do assaltante ter levado somente o celular ( que já estava precisando ser trocado). Mas fico triste, pela perda das suas fotos que sempre eu curtia. Que Deus te proteja sempre!! Bjs Mama

João Miller disse...

eu sou pós-graduando. agora vc vai me entender quando eu falo pra correr, pegar a rua mais movimentada ou andar sem ipod na mochila.

Carlos Pinto disse...

É fazer o que né. Estamos no Rio de Janeiro, "Cidade Maravilhosa"
To me guardando pra quando o carnaval chegar, botar meu bloco na rua e ver passar na avenida um samba popular, deixar a vida seguir sem me importar, se hoje to tristonho amanhã vou me alegrar. A vida é isso, deixe a vida te levar. Bola pra frente. Bjs

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