quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fevereiro

Mesmo que este ano o carnaval seja só em março tenho pra mim que nasceu em fevereiro. É agora que tudo começa a se compor, não tem jeito. O Rio fica amontoado de gente e o sol fica mais forte. Fevereiro já foi odiado por mim. Primeiro porque era difícil pra minha compreensão juvenil entender que um mês pudesse ter 28 dias, que dirá 29 esporadicamente. Depois porque virou o mês do fim da vida mansa pras escolas. E como entender que logo uma semana depois voltaria a vida mansa de novo. Até porque não fui folião na minha infância. Não sei se sou hoje em dia. Sei que agora não odeio mais fevereiro.
Na minha concepção mal saí de janeiro. Estou ainda prestes a desejar feliz ano novo pra quem não encontrei ainda. No duro, os tamborins estão prestes a avisar e eu já consigo ouvir o farfalhar das baquetas.
Pra mim o carnaval mudou muito de figura. Minha avó sempre teve uma empregada muitísismo gente fina, de apelido Zelina. Num carnaval em Petrópolis, quando eu começava a tentar entender o que era, procurava na Globeleza pistas para o meu entendimento. Alheio a toda sua nudez, me vinha a música que eu cantava da seguinte forma: "Lá vou eu, lá vou eu, hoje a festa é da Zelina". O carnaval então por um bom tempo foi também o aniversário dela, ou o aniversário dela era o carnaval. Não sabia direito assimilar porque lá iria eu, porque tanta farra pelo dia dos seus anos, se na casa da minha avó ela era sempre tão mansa e na dela. Aconteceu que até hoje não sei quantos anos Zelina tem, nem quando de fato faz aniversário. Aprendi só que o carnaval não é 'na dele'.
De segunda já sabia do que esperar de fevereiro. Não buscava mais na TV, fui procurar na rua. Devia ser um ano como esse, que o carnaval começaria só em março. Só lembro de avistar vizinhos e moradores do bairro, travestidos e muitas vezes fantasiados com pouca roupa e já sem a cordialidade dos elevadores. O que me espantou foi a cantoria em coro de versos igualmente sem sentido, seguidos de uma orquestra rodeada por confetes e serpentinas. Eu até gostava de ver, mas não queria participar. Com o tempo fui decorando alguma coisa mas esperava que fevereiro voltasse ao normal. Ou seja, que chegasse março.
Hoje não espero nada de fevereiro, mas já sei bem o que é. Vinte e oito ou vinte e nove dias antes da vida normal. Engraçado que calha justamente com o fim das férias. Parece ironia, como se fossem os últimos dias pra aproveitar antes de voltar a labuta. Mais ironia é o mês com menos dias ser o mais libertino. Hoje eu entro nos blocos mais como simpatizante do carnaval do que de fato um folião. Já aprendi a aproveitar, a gostar e até a sentir falta. Só me adianto a falar isso tudo antes que março comece.

2 comentários:

Marcela Capobianco disse...

fevereiro pra mim sempre foi o melhor mês, o mais especial, por isso diferente de todos. e eu sempre pulei carnaval, nos finados bailes do iate clube de marataízes, do clube dos coroados de valença...
e ontem no meu primeiro dia de estágio em redação um cara pergunta: "vc gosta de carnaval?" eu: "gosto" ele: "ahá. agora vai passar a odiar". veremos...

mariana disse...

só passei a adorar o carnaval de uns 3 anos pra cá. antes gostava, e tal, mas hoje amo. e acho bem desagradável esse intervalinho entre o carnaval e o natal.

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