Este ano, para mim, está sendo um ano de experimentações. E não tão boas. Primeiro, o primeiro assalto, depois, o último primeiro de dia aula, e, agora, a primeira vez que eu fui parar no hospital.
Foi ontem, sexta à noite, quando estava me arrumando para comemorar que um dos meus melhores amigos vai se tornar o médico mais foda do mundo daqui a uns anos. Boca inchada e dormente, rosto queimando e bem escarlate. Fora isto, nada. A mania brasileira de se automedicar imperou, pedi um Allegra para a farmácia. Tomei, mas nada mudou. Seguindo o conselho da prima médica, minha mãe me levou às dez e meia para o Copa d'Or. No caminho, pensava em como sempre me ferro. Tantos dias para ter um piripaque e vou ter logo numa sexta à noite com comemoração. Não me sentia doente e achava um exagero estar ali, no meio daquela gente esquisita, sentadinha esperando a telinha mostrar que a senha delas seria a próxima a ser atendida. Várias crianças com suspeita de dengue, muita tosse, velhinhas com a testa encostada na parede. Uns pareciam bem normais. Não dava para saber quem era doente, quem era acompanhante ou quem só tinha fricote e psicose suficiente para ir parar numa emergência numa noite de sexta. Observando aqueles rostos, ao mesmo tempo em que a cabeça registrava o início do BBB numa televisão distante, minha senha apareceu na telinha à minha frente. Foi rápido, e agradeci em pensamento por ter um plano de saúde. Imaginei se tivesse que baixar numa UPA 24h ou num Miguel Couto. Não era tão rápido, a senha não me fazia encontrar um médico, mas sim uma atendente simpática que pegou meus documentos e me deu um crachá. Tentei pensar se ela pensava que eu era uma dos psicóticos, já que não tinha cara de doente, me locomovia normalmente, falava bem. Só tinha um rosto vermelho. Também não demorou muito para que a enfermeira pudesse me atender, medir minha pressão, me dar uma bronca por eu não saber a qual anti-inflamatório sou alérgica e colocar um adesivinho verde no meu crachá. Verde, então não é grave. Todo mundo vai achar que eu tô de fricote. Olhei para a mesinha ao lado, e os rolos de adesivinhos se mostravam azuis e amarelos, além dos verdes iguais aos meus. Hmmm, azul também parece ser tranquilo. Qual será que indica gravidade maior? Tomara que seja o verde. Fui conduzida para uma salinha lá dentro, e minha mãe não poderia ficar comigo. Só me restava ver o BBB ou reparar nas pessoas que estavam ali comigo. De novo, tentava imaginar o que as fazia estar ali. Ouço um idioma megaestranho, não entendo uma palavra. São dois amigos conversando, e um deles tem uma cara péssima. Ih, gente, o gringo veio para o Rio pegar dengue. Ótima impressão. A mulher do meu lado lê um livro. Para variar, não me contenho e tento, de rabo de olho, descobrir o título. "Obsessão/Desobsessão" ê clássico! Com certeza ela é fricoteira. Só depois percebo que ela não tem nada, só está acompanhando a mãe idosa. O corredor ao lado da salinha é um passa-passa de jalecos brancos, outros, nem tanto. Opa, um médico bonitinho! Agora só passam feios. Cadê o bonitinho? Sinto pena deles. Plantão de fim de semana deve ser foda. Depois nem sinto tanta pena porque lembro que jornalista também faz plantão e ganha bem menos. Penso nos meus amigos comemorando, ali mesmo naquele bairro. Acho que dá para passar lá depois. Uma doutora com sotaque de paulista chama meu nome. Pergunto se a minha mãe pode entrar. Ela me olha como se eu fosse problemática, e diz que sim. A consulta dura menos que três minutos, é crise alérgica, e eu só preciso esperar um pouco para tomar um remedinho. Beleza. Volto para a salinha com os doentes. Está bem mais cheia. Coloco um gelzinho higienizador nas mãos só por garantia, hospital é meio nojento. Quase cochilo... mando mensagens dando notícias da minha moléstia... espero. Passa da meia-noite quando meu nome é proclamado novamente, agora por um enfermeiro com roupinha de quem trabalha em ambulância. Vou ao encontro dele e tomo um sustinho ao ver duas seringas enormes na baciazinha que ele segura. Levarei uma picadinha, que delícia. Outro sustinho quando ele diz que uma das picadas vai ser no bumbum. Não consigo nem lembrar quando foi a última vez que tomei injeção no bumbum. Simpático, o meu enfermeiro, sangue O positivo - estava escrito no macacão - e, com certeza, gay. Ele diz que a borrachinha que aperta meu braço dói mais que a agulha. Verdade. Na hora do bumbum, ele diz que só dói no final. Mentira. Diz também que vou ficar grogue e apagar quando chegar em casa. Adeus, comemoração. Que night de sexta, meu Deus! Crente que estava liberada, descubro que tenho que esperar mais um pouco para ver se vai ficar tudo bem. Retorno à salinha dos doentes. Caras desconhecidas. Percebo que meu lábio inferior já parece voltar para o tamanho normal. O Globo Repórter fala de alimentação saudável. Que pauta original! Um radinho ecoa comentários futebolísticos. Sorrio ao reconhecer as vinhetas. Um sono master me invade. Caraca! A médica paulista volta, dá uma olhadinha em mim e me libera. Ufa! Minha mãe lá fora já estava de saco cheio. E preocupada. Quando é informada das duas injeções, solta: "Ai, ainda bem que eu te trouxe, não foi exagero". Mãe tem sempre razão.
Um comentário:
pior que ir pro copa d'or é ir parar na UPA 24h uma semana depois... hahahha
beijos, querida!
Carol Barbosa
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