
Lá, no sebo, o avaliador parecia cagar para mim e para as histórias dos meus livros. Comecei a me arrepender quando ele pegava meu livro, folheava rapidamente, e escolhia uma das quatro pilhas - que ele acabara de criar - para depositar. Alguns outros, permaneciam na mão daquele peculiar 'avaliador de livros velhos'. Tentei entender o sentido das pilhinhas, mas não consegui. Ziraldo estava na mesma pilha da Narcisa Tamborindeguy, o Tolkien ficou embaixo da Constanza Pascolato, enquanto o Capitão Cueca fazia companhia para Chicó e João Grilo, do Auto da Compadecida. Fui ficando deprimida, me sentindo a mãe que entrega os filhos à adoção. Pensei em mandar ele parar, porque aquilo ali era a minha história, e quem era ele para ir categorizando meus livros daquela forma? Mas permaneci quieta, e percebendo a real, que em breve daria tchau para aqueles títulos e também para a Marcela criança/adolescente que passava tardes e tardes deitada com um livro, ansiando pelas páginas finais. Quando o homem terminou, cinco pilhinhas estavam na minha frente. E veio a sentença: "Te ofereço 50 reais". Respondi um "Tá". E ele pegou quatro livrinhos e me deu: "Esses aqui não me interessam, não". Pensei: "Coitados, renegados até por um sebo", mas disse "Ah, tá bom. Você pode me devolver um das sacolas, então?". Peguei os 50 reais, os títulos renegados e saí da loja um pouco triste, sem dar uma última olhadinha para os meus livros, que já tinham sido tão importantes e hoje cada um valia cerca de R$1,38. Olhei para a sacola nas minhas mãos sem saber o que fazer, e uma vontade de chorar se apossou forte de mim. Me segurei, senão seria ridículo ter que explicar para alguma velhinha do Catete o que aconteceu para uma menina tão bonita estar chorando no meio da rua. Fui andando à esmo, até encontrar um gostinho de alegria numa esfiha da Galeria Condor, e me dar conta de que as minhas memórias valem bem mais do que 50 reais.
Um comentário:
que livros foram rejeitados?
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