quinta-feira, 2 de junho de 2011

Relatos de um ex-ilhado

Na quinta-feira passada eu decidi me exilar. Resolvi subitamente desviar minha rotina me desligando do Facebook por uma semana. Assim mesmo, do nada. Estive exilado de volta pra minha vida offline, repleta de pendências e planos voadores. Ou pelo menos achei que estava de volta.
Quando postei no mural, no dia da decisão, senti o começo da dor de passar uma semana "morto". A partir de meia-noite cumpri o meu decreto. Saí de cena, mas estava preocupado. Me "matar" dessa forma é perigoso, já que se pode saber o que os vivos acharam do suicídio. Me perguntavam porque teria sido eu tão enfático em me torturar assim. Alguns me apoiavam, uns eram indiferentes, ao passo que outros viam no meu ato uma estratégia. Como se eu, um mero divagante que não consegue dar foco para suas atividades aqui de fora, pudesse querer me tornar o Messias do Facebook, aquele que ressuscitou no sétimo dia e virou figura maior. Não foi essa a intenção, meus caros. Nem fui este tipo de mensageiro. A única mensagem que trago aqui de volta é de vida física, que ainda existe se quer saber. Mas não existe milagre nesse sentido. Pelo menos nada que me fizesse voltar prontamente pro que eu planejei.
Os dias em que eu passei esvaziando minha cabeça de likes e atualizações, ao mesmo tempo, calibraram o meu senso de autopercepção. A minha vontade mesmo era canalizar totalmente o foco dos balõezinhos vermelhos para todo o resto que eu um dia havia sido esquecido aqui fora. Livros; e haja marcadores de página para tantas histórias lidas pela metade. Desenhos; dos traços que nem ganharam vida à caneta, que dirá à aquarela. Filmes; ainda que eu não tivesse todos os que pretendia, havia uma lista interminável do que se queria ver. Fora todo o tempo pra me organizar, que achei que fosse infinito se um dia me desvencilhasse como fiz. Não sendo como imaginei, deu pelo menos para conversar um pouco mais, jantar na mesa, domir mais cedo. Mentira. Se dormi mais cedo foi porque não tinha nada pra fazer. E se procurei conversar mais ao vivo foi por carência. Principalmente no domingo, o suposto dia do descanso foi pra mim o dia mais insuportável de lidar. O que fiz, e isso me vale todos os esforços de tornar esse post menos rasga-seda, foi justamente permanecer no computador, a maioria das vezes. Ainda assim, mesmo que sem rede social, achei pretexto também pras próprias pendências online. Aí lá se vai meu exílio...
No final do meu isolamento já comecava a auratizar o Facebook. Queria andar depressa. Ouvia pela faculdade conversas entrecortadas, sempre fazendo menção a algum ocorrido pela timeline. Me sentia alienado, quando esperava me sentir aliviado. Tive essa sensação continuamente, e isso com os amigos também, quando tudo que era pano pra manga parecia provir de lá. Apesar da inquietação, minha abstinência não durou tanto. O vício foi substituído involuntariamente e eu também começava a entender por ora que não tem mais como se desligar dessa forma. Simplesmente não dá.
Ver de fora já não é mais tão fácil. O Facebook virou documento, e quase tudo está atrelado ao fato de pertencer a esse bolo. Tão de repente. Descobri que nem se o tempo que eu tivesse offline fosse infinito eu daria conta dos meus planos e pendências eternas. A dispersão já é sequela, e é coisa minha mesmo. Nada que não tenha outro remédio. Confesso portanto o meu fracasso nesse ponto. Por outro lado o que mais me marcou dessa experiência toda foi o estranhamento alheio. Houve quem pareceu estar na sala de jantar preocupado somente em nascer e morrer. Já eu tenho história nova pra contar, ainda que tenha perdido vários videos marcantes, discussões polêmicas, e novidades das pessoas ao meu redor. Pelo menos jantei, me matei e cá estou de volta ao mundo; vivo.

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