Ela se lembra de uma das primeiras vezes em que bebeu cerveja um pouco além da conta e viu o mundo rodar na hora de levantar da cadeira para fazer xixi. Mas já não se lembra do primeiro domingo de ressaca. Ela tinha medo de engravidar enquanto ainda estava no colégio - embora fosse impossível - e virar personagem das matérias que lia nas revistas que recebia pelo correio de 15 em 15 dias. Mais tarde, ela tinha medo de não gostar da faculdade. E, no começo da nova vida no terceiro grau, tinha medo de não fazer amigos. Hoje, quando ela olha para trás, vê que já passou por muita coisa, e sorri quando pensa no futuro. Sabe que, para os problemas que vier a enfrentar, sempre vão existir um bom lápis de olho e um amigo com um ouvido companheiro.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Só ela
Ela não sabe precisar quando foi que largou as histórias em quadrinhos para se interessar pelas leituras leves e cheirosas das revistas feitas para adolescentes. Ela só lembra que ainda faltava um pouco para ser considerada - e também para se considerar, de fato - uma adolescente. Ela não sabe direito quando deixou de lado a escrita em letra cursiva para assumir de vez uma letra de forma improvisada, que moldaria, muitas vezes, tempos depois, os improvisos escritos pela mão esquerda em cartas intermináveis com declarações de amor, que podem nem ter sido entregues. Ela não se lembra muito bem em qual época as bonecas deixaram de fazer sentido, e passaram a integrar uma decoração de um quarto ainda infantil, cuja dona já se sentia crescida demais para aquele ambiente. Ela também não guarda na memória a primeira vez em que se maquiou, só lembra que, criancinha ainda, gostava de deslizar pelos lábios finos os batons vermelhos da mãe, e ficava sem fechar a boca por, pelo menos, uma hora, para que a cor fixasse e ela pudesse se sentir mulher. Ela nem tem ideia de quando foi que constatou o poder de um bom lápis de olho, quando aplicado bem rente às pálpebras. Com o tempo aprendeu que não há "cara de ontem" que permaneça após um lápis de olho bem passado. Foi, provavelmente, em uma festa chique de família - casamento, bodas, aniversário - que ela calçou pela primeira vez um salto alto, e pôde experimentar aquela sensação maravilhosa de "estar por cima" por algumas horas, até que a dor nos dedinhos passa a ser tão insuportável que ela reconhece a derrota e se rende sem nenhum arrependimento às havaianas, ou mesmo ao chão frio melado de whisky e sujeira. Na memória dela, não há uma data certa para aquela vez em que riu tanto que a barriga doeu e o fôlego faltou. E ela também não sabe quando descobriu um certo talento para fazer os outros rirem. Nem sabe mais quando foi que se estressou tanto, mas tanto, soltou tanto os bichos... que colocou toda a culpa na TPM. E a primeira vez em que se descontrolou em uma liquidação imperdível? Quando comprou aqueles sapatos lindos, que foram usados só duas vezes? Ela já nem lembra mais...
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