Nessa falta de assunto típica de início de ano, procuro na gaveta dos clichês o menos agravante. Achei: o Rio. De um Janeiro que não se fala em outra coisa que não seja o Canadá, supostos abusos sexuais e movimentos antipirataria. Eu prefiro me manter na mesmice, desviar a atenção da Luiza, que já voltou para a Paraíba, e observar o melhor que eu tenho e que nunca cansa: a minha cidade.
'O Rio é o trailer do Brasil', já disse Arnaldo Jabor. Sublinha-se que uma vez que a beleza natural seja a alma do negócio por aqui, o enredo não é lá como o esperado. Ainda assim, é inegável a comparação. Toda vez, mesmo o dia cinza ou azul, eu passo pelo Cristo e me distraio pensando em sei lá o que, admirado com a mesma satisfação de uma primeira visão. Mais ainda, de pensar que a despeito do calor de mais de 40ºC o Rio é um coquetel antidepressão (lembrando, vamos resguardar que estamos num trailer maravilhoso de um filme que não é tão lindo assim). Inspirante e ao mesmo tempo intrigante.
A cidade partida, maravilhosa e caríssima se consagrou. De longas de animação que a glamurizam, ou mesmo dos jogos olímpicos que a valorizam, de certo, viram por aqui um terreno quase que de novidade. O Rio de Janeiro, promessa do terceiro mundo. A cidade que alcançou olhares dos menos esperançosos até os mais acalorados. Desmistificou o segredo do carnaval, do futebol arte e de toda aquela alegria que o carioca sorri pelos outros países ou cidades por onde passa. Esses que por sua vez adoram voltar de avião para entender pela janela que tudo é uma grande verdade. O carioca, pelo menos ao qual eu me refiro, que não vive só de bossa, que também ouve funk, que não é obrigado a gostar de água de coco, menos ainda de ser bronzeado. O carioca que também entende de caos, que passa horas em transporte público, que sacou que o Rio vive da fachada Zona Sul, não mora lá, mas é igualmente carioca. E mesmo para aquele que sabe jogar bola bem, desfila na Sapucaí e aplaude o pôr-do-sol religiosamente, é unânime o orgulho de morar por aqui. Carioca da gema é quem nasce no Rio e só.
O porquê ninguém sabe ao certo. A exemplo das incansáveis canções apaixonadas, nunca se revelou porque aqui tem qualquer coisa de diferente, de menos mundano. O Rio que também é Brasil, da malandragem e do jeitinho que resolve tudo. Que também se aplica à máxima do "não desiste nunca", mas adora cair numa praia antes do trabalho. Rio que também se reinventa e desperdiça. Que às vezes joga num canto a vontade de ser mais bonito ainda. Rio que não me deixa não ser clichê. Rio que eu amo.
3 comentários:
curioso é vc postar isso num dia em que uma tragédia mostra como pode ser vergonhoso morar no rio de janeiro...
pois é. se o blog tiver leitores críticos, partidários e moralistas eu agora sou o mais ingênuo e ridículo dos cariocas.
Postar um comentário