Bloco de quatro venturas

Não é de hoje que ouvir Los Hermanos é uma experiência difícil de assimilar. Há 12 anos atrás uma moça de nome composto apareceu nas rádios, e sem saber o porquê perdurou como o hit de verão que não se escutava igual há muitos. Aliás, por mais que tenha sido ela, Anna Julia, a trazer a banda para o meio musical, as cerejas do bolo hoje são outras, não é verdade? Por elas, Los Hermanos tem sido, na minha opinião, o último agrado artístico e respeitado em termos de banda que surgiu nos últimos 10 anos. Qualidade artística mesmo quando se fala do exagero em  melancolia. Fez-se a derrota. O fã que se derruba mas entra em êxtase estirado no chão. E desejando mais e mais, além daquilo que se vê e ouve.

Tenho ouvido com assiduidade desde o finalzinho da adolescência. Tudo bem que com alguns picos e baixas. A sensação mexe com alguma parte não descoberta de si, algo como se você nunca estivesse esperando ouvir aquilo um dia. Pois é, chegou aos meus ouvidos. Uma vez era como se fosse um hino sofrido, a outra um pequeno instante de redenção. Tal qual a mistura de gêneros da banda a sensação se misturava. Fui incessante, procurei mais uma canção, uma atrás da outra, para ver o que dava pra sentir a cada vez. Até que parei para observar. A despeito de uma quantidade considerável que gostava do som dos Hermanos como eu, existia uma devastadora repulsa por outros, gente que abominava a banda. Falam de um som pouco versátil, um ode ao suicídio e tudo mais que  pudesse classificar um estilo pouco apreciável. Tá bom, com razão em algumas análises. Mas o que tinha de tão grave assim? Recomendo que escute de novo, sem estar barbeado quem sabe.

Parece que Camelo e Amarante mantém um pé no underground e outro no mainstream. Será possível? Vai ver esse é o mistério que fez a banda sucumbir o ódio dos antigos haters e torná-los fãs hoje em dia. Los Hermanos pode ser complicado para alguns ouvidos mas de fato modificou o cenário da música no Brasil. É piegas cair nessa discussão, mas não me lembro de ter ocorrido mais nada de inovação significativa em gênero quando se trata de música brasileira de uns anos pra cá. E isso não os glorifica nem os torna intocáveis, e veja você, nem te obriga a gostar.

Seria de todo vil tentar provocar artificialmente uma saudade para os fãs? Não sei. Seria pior ainda voltar a fazer show sem produzir mais nada? Também não sei. Um hiato pode ser bem mais que uma simples pausa mesmo. Mas eu tenho um álibi. Eu, que há seis anos atrás paguei 20 reais por um show que não fui por não ter uma sequer companhia que não tivesse furado, fiz o melhor que sou capaz esse ano. Fiquei com uns amigos até quatro da manhã no site dos ingressos para dessa vez dispor bem mais de 20 reais pra ver se ao vivo é tudo isso que falei há pouco. E conseguimos. Esse domingo tem show e a minha barba já cresceu tudo o que podia - o que não é muita coisa.

Giletes à parte, um adendo afinal. É difícil assimilar Los Hermanos principalmente pelo contexto onde eles ainda sobrevivem. Sem entrar em méritos, mas se eu peco nesse post é na vontade de valorizar a música que ainda dá vontade de ser desconstruída, quando ela dá uma perturbação nos ouvidos. Assim será sempre, haja ou não interesse comercial, arrogância, Mallu Magalhães ou solos de George Harrison.

E vamos ao show!