Hoje fiz uma coisa que queria fazer há bastante tempo. Acho que demorou tanto por vergonha. Não queria me expor, ser alvo de olhares alheios, nem despertar pena de senhorinhas que nunca me viram na vida. Mas hoje, sem mais porque, talvez movida pelo ócio e a vontade extrema de não fazer o que deveria àquela hora - ir à academia - saí de casa determinada. Casaco apoiado num dos braços, parti em direção ao cinema. Isto mesmo. Fui ao cinema sozinha pela primeira vez. Um pouco esbaforida, perguntei no guichê às 12h42 se ainda poderia comprar ingresso para a sessão das 12h40 de "Sete dias com Marilyn". A moça me olhou como se eu fosse uma panaca e mandou um "é claro!". Na verdade acho que ela queria dizer "Minha filha, a essa hora, nunca que esses ingressos esgotariam. Quem pode ir ao cinema em pleno horário de almoço de uma quinta-feira? E mais, a bilheteria só abre às 12h30, como é que eu não poderia vender mesmo com o trailer já tendo começado?" Pelo menos foi o que imaginei vendo a cara da moça. Eu, claro, poderia revidar, dizendo que não sou desocupada, só tenho um horário de trabalho meio pitoresco e tal. Mas o que fiz foi escolher meu assento - em um mar de poltroninhas verdes -, pagar e me encaminhar à bomboniére para comprar um suco que custou só um real mais barato que a entrada. Estranho mesmo era não poder fazer este comentário com ninguém. Não podia perder tempo, afinal, o filme já podia ter começado, e poucas coisas me irritam mais do que chegar atrasada a uma sala de projeção. As luzes já estavam apagadas, mas, na tela, rodavam imagens que com certeza não pertenciam a uma semana da vida da estrela-problema Marilyn Monroe. Comemorei comigo mesma. No breu, não poderiam ver meu rostinho solitário e eu não enxergaria olhares consoladores. Sentei na H13, acomodei minha bolsa na cadeira ao lado e pude reparar nos demais espectadores. Só quatro, comigo, cinco. Todos sozinhos, e nenhum deles parecia triste ou solitário. Todos pareciam extremamente normais, como se estivéssemos num ônibus ou num restaurante a quilo no Centro da cidade. Foi aí que me dei conta de que o que eu sentia era uma grande bobagem, e estar sozinha numa sala de cinema às 13h de uma quinta não me fazia solitária, e sim, sortuda. O filme começou e, coincidência - ou não -, o protagonista aparece sozinho num cinema assistindo a um sucesso de Marilyn. A partir daí, mergulhei na Londres de 1956 e nem notei mais onde estava. O filme é ótimo, a hora passou voando e, quando os créditos baixaram, percebi que aquela tinha sido a melhor escolha do dia, e que com certeza ainda vou aproveitar muitas tardes deste jeito. O celular, com chamadas não atendidas e mensagens não lidas, mostrava que a minha realidade não é solitária, e a solidão, de vez em quando, vem a calhar. Já do lado de fora, a luz do sol maltratou meus olhos, e eu segui ainda um pouco zonza de volta à normalidade de um quinta-feira à tarde.
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