segunda-feira, 23 de abril de 2012

Edifício comercial

No edifício onde eu trabalho os mais soberanos costumam abotoar as suas camisas sociais o mais alto que podem. No elevador, despontam a finura de tossir com a mão na boca, falar cochichando e desejar uma boa tarde aos remanescentes - no geral meros estagiários ou trainees. Tomam café em copo térmico, de preferência ao estilo american way. Ainda que estagiário, tenho que pegar sempre o cartão de visitante. Espero passar os executivos de alto escalão que escorregam seus crachás de fitinha azul ou vermelha no sensor. Passo também imitando o desprezo, sem fitinha nenhuma. Mas quando quero sair para comer qualquer coisa fora das instalações do prédio, sou obrigado a depositar o meu cartão e entrar na fila para uma nova visita à minha função. Sou recém contratado.
Me sinto diariamente júnior. Estava de tênis encardido, ao estilo despojado, com cadarços sujos das noites do fim de semana. A minha camisa estampava os três macaquinhos - o surdo, o mudo e o cego - de uma maneira irreverente, e intrigava outro dono de mala de couro no elevador. "Vim visitar o meu pai, tio." passou pela minha cabeça. Gosto quando sobem aqueles de óculos vermelhos na mesma leva, que me lembram que na nossa profissão não é preciso nem ter miopia. Tô pra levar o meu fonezão de ouvido, que obviamente não vai barrar o de nenhum outro designer do meu setor. Tô pra levar também uma garrafa de vodka para beber espertamente goles grandes de água.
Cheguei atrasado porque algum congresso já tinha começado na fila do térreo. Todos de visita, - inclusive eu que visito diariamente - alguns com suas pranchetinhas à tira-colo e outros com o que parecia um aparelho de tradução simultânea. Quando não são eles, núcleos infindáveis de conversas internacionais, entre o cara que passou na empresa por ter espanhol fluente e o dono da multinacional de algum país latino. É até divertido. Às vezes fofocas e desabafos sobre algum funcionário, quando não são chiliques revoltados. Imagino o dia que eu mandar em alguma coisa, se eu vou realmente botar banca de chefão, ser xingado em elevador. Será? Eu que não sei nem dizer "não" quando minha prima de sete anos quer brincar de caça ao tesouro.
No mesmo prédio onde figura uma vida adulta e sisuda, um cenário oculto me fascina. Os batedores de ponto disciplinados ou nem sempre, circulando cheios de ambições e sonhos pela mente. As vezes meros comodismos, pistolões, gana por poder, poder mandar. Gente que à despeito disso são fora dos seus ternos grandes fãs de Turma da Mônica e Bubbaloo de Tutti-Frutti. Fecham contratos milionários e chegam em casa sedentos por um pijama furado. Que figuram sempre os mesmos, nos infindáveis prédios comerciais do mundo. Mas que no fundo também são sempre os mesmos.

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