segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Salve, Avenida Brasil!


É já na primeira frase deste texto que eu peço licença para me alongar em um assunto que durou oito meses, mas que ainda está quentinho. Sim, vou falar sobre "Avenida Brasil". Talvez seja o arrependimento de não ter assistido aos primeiros capítulos da trama de João Emanuel Carneiro que se tornou obsessão nacional que me faça insistir em um assunto que já era para ser considerado ultrapassado. Perdi o começo da saga de Nina/Rita não porque quis. Meu horário não batia com o do "Oi, oi, oi", e só pude ser fisgada pela galera do Divino um pouquinho antes do centésimo capítulo - aquele que marcou a volta por cima da vingativa protagonista sobre a diaba loura. Fui até legal, esperei "Salve Jorge", o folhetim com a tarefa ingrata de suceder o fenômeno, estrear para formalizar por escrito o meu amor pela história de Tufão e companhia.
Não vou repetir o que todo mundo já falou sobre "Avenida Brasil" ter sido uma novela genial por entender o processo em que se encontra o nosso país, que mostrava tipos complexos que não são completamente bons, tampouco completamente maus, e que conseguia despertar ódio e paixão do público por um mesmo personagem num só capítulo tamanha a agilidade e a falta de "barrigas" na história. Vou além, e digo que quem esteve no Brasil entre março e outubro de 2012 pôde testemunhar um momento histórico. Ok, sejamos um pouco menos pretensiosos: um momento histórico da televisão. É claro que a internet contribuiu muito para que a novela fosse, aos poucos, se tornando um dos tópicos mais importantes nas conversas de grande parte da população. Nunca houve tantos memes, tantas paródias, tantos TTs do Twitter, tantos fóruns de discussão abertos espontaneamente em status do Facebook e tanta interação do conteúdo que rolava na telinha da TV com a tela do computador. O blog mantido por Monalisa, a cabelereira fictícia do Divino, podia ser acessado por mim e por você, pessoas de carne e o osso - e às vezes nem tão complexas quanto as figuras que permearam a trama. No dia em que foi transmitido o último capítulo, quem acessava o site da novela descobria que a lista de suspeitos da morte do malandrão Max ia diminuindo com o passar das horas. Ao tentar forçar um olhar crítico, me sinto como um ratinho de laboratório. Parece que tudo em "Avenida Brasil" foi pensado para arrebatar os telespectadores. A música superanimada de abertura, que desperta a vontade de remexer o esqueleto até em quem chega exausto do trabalho, a ambientação em um bairro do subúrbio em que todos sentem vontade de morar, ou pelo menos de dar uma voltinha em um domingo para observar crianças brincando livres no meio da rua, os badalados almoços de uma família que ficou rica mas que não perdeu a simplicidade - e maximizou a cafonice. Teve alguém que não quis experimentar a receita do risoto da Nina? E o congelamento na cena final? Virou moda! Isso tudo sem falar da vilã mais admirada, odiada, imitada dos últimos anos: Carminha. Adriana Esteves e sua criatura entraram para uma seleta galeria na qual se encontram Odete Roitmann e Beatriz Segall, Nazaré e Renata Sorrah, Perpétua e Joana Fomm... As calças off-white, a bolsa Michael Kors, as blusas de cetim e seda tomaram forma nas ruas e continuarão por aí, despertando a saudade de uma vilã que, no fim das contas, se mostrou tão vítima quanto as pessoas que ela maltratava. 
Sou uma órfã de "Avenida Brasil", mas estou aberta às possíveis emoções de "Salve Jorge", uma novela que não apresenta uma vilã logo de cara merece atenção. Mas a história, aquela com h maiúsculo, ficou lá pelas bandas do Divino e acho que essa nem o santo guerreiro resolve.

2 comentários:

João Miller disse...

Perfeito! Brasileiro gosta de presenciar sucesso de perto. Ainda mais em tempos onde parece que os maiores hits estão num passado já distante.

Regina Capobianco disse...

Má,
Amei. Colocou mto beemmm!!
Cada vez me amarro mais nos seus textos. Bjs

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