domingo, 9 de dezembro de 2012

Dias de PUC

Sabe que esses quatro anos e meio de faculdade me fizeram pausar uma aflição que a gente tem quando pensa uma vez, lá atrás na escola, o que ser da vida. É claro, é um tempo já dedicado a concretizar esse status "se tornar profissional". Mas por outro lado é também o mesmo tempo que te faz iluminar uma série de outras possibilidades de vidas a se seguir. Desde o pequeno incurso dos papos com as mais variadas pessoas e cabeças jovens borbulhantes de novas ideias, até os já estabelecidos corpos físicos plenos de experiências de vida e suas lições, às vezes até amorais. Faculdade é um negócio pra ferrar com a mente.
Para você ver, naquele agosto de 2008, no meu já longínquo "Primeiro Dia PUC" eu fazia cair do céu uma muralha imaginária, dividindo a minha vida de antes para a minha vida de então, nessa de querer mudar tudo logo. E era claro que não havia nada de muito diferente ainda - tirando o fato, de que uma dessas meninas maravilhosas com cara de rica, já se exibia e exibia um iPhone quando ele nem tinha sido lançado no Brasil. De fato, o mais engraçado é comparar aquelas projeções, digeridas depois de diversos sermões esperançosos de boas vindas, com o que de fato aconteceu e acontece hoje. Posso dizer que umas se confirmam e outras se transformam, ao passo que você vai se tornando uma pedra lapidada das suas primeiras percepções, porque são realmente as que ficam.
No dia seguinte é que dava para sacar de fato o espírito da coisa. Primeiras aulas, pessoas novas, professores, lugares diferentes. Meus 18 anos latentes num rosto de espinha e prontos para me tornar sério mas aproveitar aquele espírito festivo, entregue logo de cara. Comunicação se mostrava de fato um curso livre de amarras, muitas vezes livres de um rigor. E quando falo que faculdade ferra com a mente é porque parece que a gente muda de prioridade por alguns instantes. Não falo nem das matérias de jornalismo - que aliás começaram como maioria - nem as de cinema. Nem quero dizer que deixamos de lado nossas escolhas. O ponto é que somos condicionados a perceber e curtir os pequenos intervalos. A volta pra casa de ônibus, o dia da semana sem aula, a cerveja que une a turma, as partidas de truco e mais uma série de coisas que no fundo você já sabe que ficam por ali.
Nessa de ratificar o espírito universitário, o clima te induz a parecer com os que você quer que se pareça. Os amigos que faz, mesmo os não tão parecidos, são os seus melhores amigos de faculdade. E em geral são todos muito diferentes mesmo, o que talvez possa pegar carona no prefixo de universo em universidade. São diferenças muitas, que variam do time de futebol até o gosto musical, mas que simbolizam sim, o seu grupo de faculdade. Eu me importava em ter um e achava importante ignorar as estranhezas nessas horas. O barato maior era o riso, de todos esse quatro anos o riso foi o fator mais flagrante de que deu certo. Meu grupo tinha essa de não parecer com a turminha fechada e padrão dos que ali se formavam, aquela onda de ser muito rótulo comunicação da PUC, frequentar o centro acadêmico por obrigação, fazer parte de comissões de choppada. Tínhamos um pouco de criar no ambiente faculdade uma microesfera do nosso dia a dia, que muitas vezes foram as mesinhas da barraca de croissants numa sátira de vida universitária que valeram muitas e muitas histórias. Pelo menos ao meu ver o que eu mais consegui de bônus dessa faculdade foi ter tido afinidade com os que eu menos imaginava, e que no final eram os mais interessantes mesmo.
No correr do curso, voltando a atenção para o objetivo geral ali dentro, muitas aulas acabavam te fazendo olhar pela janela novamente. Algumas um pouco menos, outras um pouco mais. Não tenho mágoas de nenhuma matéria em específico, talvez um pouco de frustração por não ter conseguido projetar tão bem minha carreira em alguma delas. Mas por outro lado, como costumo dizer, teve tempo para outras coisas. Nunca estudei tanto a música popular brasileira, aprendi o alfabeto dos surdos, estudei teatrólogos, participei de uma intervenção, fiz ponta em curta, dei entrevista, fiz reportagem, fui apresentador de programa de TV, ganhei um concurso e até virei notícia por ser assaltado com o equipamento da faculdade. "Ah, então é você o cara da história que a professora sempre conta em sala, do assalto e tal?" Sim, sou eu.
No final das contas não desmereço a faculdade por me ajudar a conseguir o emprego que tenho hoje, que felizmente é justamente aquilo que quis trabalhar desde o começo. E olha que a vida universitária é mesmo um raio, e quando passa você tem de novo a impressão de precisar passar por outra etapa para saber o que ser da vida. Daqui pra frente, quem sabe, seremos de tudo como sempre quisemos.

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