Não é uma fábula, mas bem que podia ser. Você que se diz cético, que só crê no que sua saliva pode tocar - parafraseei Cony, estou arrojada - pode achar graça na história que eu vou contar... Mas eu não vou ligar. Já há algum tempo eu vinha sendo cética, usando bastante a frase do controverso e perseguido colega de profissão Carlos Heitor Cony. Até que a história aconteceu e eu voltei a ficar, digamos, "espiritualizada". E não, eu não me converti e nem recebi a visita de um anjo pela janela. Vamos à fábula contemporânea:
Era dia primeiro de abril, ironicamente o dia da mentira. Eu, cobrindo férias no trabalho, participei de uma entrevista com um psicólogo que diz ler os sinais físicos das pessoas e, portanto, sabe detectar quando elas estão mentindo. Papo vai, papo vem, descobri que dá para perceber que se um destro está movimentando muito o lado direito do corpo, há grandes chances dele estar mentindo, já que para inventar abobrinhas o lado esquerdo do cérebro precisa trabalhar mais. Eu não estou doida. A parte esquerda do cérebro comanda o lado direito do corpo.
Até que, num determinado ponto, e eu nem me lembro mais por quê, a entrevista se bandeou para o poder das palavras e da energia que empregamos em cada sílaba que jogamos no mundo. O psicólogo, com a mesma naturalidade de quem diz que basta aquecer água para que ela ferva, disse: "É muito fácil perceber o poder das palavras e a energia que circula por todos nós... Sabe aquela experiência que a criança faz na escola com o feijãozinho no algodão? Deixe dois potinhos com um grão de feijão em cada um deles, um do lado do outro, por uma semana. Um pote você trata com carinho, elogia, diz que ele vai crescer bonito e forte, e vai se transformar num lindo pé de feijão... Já o outro você maltrata, xinga, diz que ele não tem força para vingar, desconte todo o seu estresse de um dia de trabalho no coitado do feijãozinho. O resultado é batata: o elogiado vai crescer, enquanto o "feijão que sofreu bullying" não vai nem germinar direito."
Foi o suficiente para me deixar com a pulga atrás da orelha. Aparentemente, nenhum colega meu se espantou com o que o cara tinha acabado de falar. Eu, imediatamente, mergulhei numa onda nostálgica de cultivar feijõezinhos na pré-escola, e tentei me lembrar se eu conversava com os grãozinhos. Não consegui recordar... Só lembrei que ficava numa ansiedade louca para que os feijões germinassem logo. No fim da entrevista, lancei: "Eu topo fazer a experiência dos feijõezinhos! Quero ver se as palavras têm mesmo poder".
Em casa, à noite, catei dois copinhos de plástico e pedi quatro grãos de feijão - resolvi pôr dois em cada recipiente. Vai que o grão estava murcho, sei lá... - à minha assistente do lar Ragenda. Não tinha feijão cru no armário, e ela teve que pedir emprestado a uma vizinha. Marquei um copo com uma carinha feliz e os dizeres "Feijão orgulho da mamãe", preenchi-o com algodão úmido e pousei dois grãos nele. Com uma vozinha fina, tipo aquela que fazemos ao falar com bebês, desandei a elogiar os pontinhos pretos no meio do algodão branco. No outro copo, desenhei uma carinha triste e escrevi "Feijão do bullying". Áspera, xinguei muito os pobres grãos, e com todo o ódio acumulado no coração após uma segunda-feira cansativa, roguei a praga: "Vocês não vão crescer".
O ritual se repetiu durante uma semana, sempre de manhã e à noite. O resultado, como adiantou o psicólogo, foi batata, e você pode ver na foto ao lado. O "Orgulho da mamãe" se transformou no maior pé de feijãozinho-de-algodão que já vi na vida, com duas folhas fortes e verdes. O "Feijão do bullying" até germinou, mas o caulezinho não atingiu nem a altura de um dedo. O engraçado é que só um grão de cada um dos potinhos germinou. Será que não empreguei a energia necessária?
Hoje, nem o pé de feijão que se desenvolveu está vivo, mas eu ainda estou numa vibe energética, respirando nos momentos de desespero e tentando mentalizar coisas boas. Será que aquela história de que basta acreditar para que algo bom aconteça é mesmo verdade? Será que tenho que mudar o jeito de pensar e de agir por causa de quatro grãozinhos de feijão e um punhado de algodão?
Sei lá, para terminar, cito Che Guevara: "Não creio nas bruxas... Mas que elas existem, existem".
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