domingo, 7 de abril de 2013

João de quê?

Esse negócio de nome é curioso. O blog faz quatro anos e você ainda não sabe porque se chama Cena Seguinte. Não lembro mesmo, mas talvez tenha sido medo de deixar datado. Então que fosse algo que sempre estivesse por vir. E a cena a gente não sabe da qual se refere. Tem gente até que fala "Você tem um blog de teatro né?". Pois é, prefiro aceitar que Cena Seguinte é um nome que dá margem à interpretação dos leitores. "Ah, Cena Seguinte pra quem fala tanto do passado é até irônico". Isso é. Antes fosse daqueles nomes cheios de histórias, que você tira 20 minutos só contando. Mas não tem história alguma. Pode ser até que tenha um dia.
Mas sabe que dia desses me peguei num papo desses sobre nomes e suas origens. O mais interessante é que quanto mais você se depara com nomes estranhos, complexos, cheios de letras, mas você se dá por satisfeito de se chamar João. Pá! J-O-A-O-til. Pronto. Não tem que ficar soletrando pra gerente de banco, recepcionista de boate. E o batismo não teve explicação divina ou lógica também. João, assim, puro foi porque minha mãe achou simpático, fácil. E tem gente até que me pergunta "Mas é João de quê?" e eu respondo "João puro". E na mais estranha das reações "Ah, João Puro, que lindo!". E eu, num lapso de surpresa, finjo castidade e cara de santo. Isso quando perguntam se o nome dos irmãos também é nome de apóstolo. "Sua mãe é devota não é?". E pelas delícias e surpresas das pessoas, se chamar João é o deleite de ignorar o próprio chamado cotidiano. Se eu entro numa padaria e ouço me chamarem, não acredito que seja para mim. O mesmo pela repetição incansável em determinadas ocasiões da vida. Tais quais provas de vestibular, lista de alistamento em exército (Sem brincadeira, acho que foram 10 minutos entre as mais variadas combinações de João. E de puro e casto só eu e mais uns 5.), chamadas de colégio, faculdades, fora outras delegações da vida mundana. Ser João é rimar com todo o tipo de xingamento, ou no mínimo aumentativo. Ser João é ser uma criança traumatizada por nunca ter roubado pão em sua própria casa. "João roubou pão na casa do João" E sempre seguida daquela hesitação, a estranheza infantil de não acreditar que crianças precisem roubar Wick Bold ou Plus Vita de suas próprias cozinhas.
Mas ser João é já ter o nome errado na compra de um ingresso, por incrível que pareça. Juão Miller, prazer. E eu estava lá, vi o rapaz digitando. Mas não falei, pela vontade momentânea de me chamar Weverthon e dizer que erraram meu nome mais uma vez. Também não vou dizer que é muito fácil se chamar João quando se tem Miller de sobrenome. O mais engraçado é que por mais humilde que a pessoa seja, ela vai sempre querer te mostrar que sabe usar U com trema. Fui cadastrado em academias, cursos, diversos lugares como João Müller. E esse grafismo soava traumático, porque sei que pessoas como você, que está lendo este texto, deve ter descoberto agora que é Miller com I. Mas não importa, o bacana de perguntarem "Mas é Miller como?" é sempre responder "Igual o da cerveja". E modéstia parte, tem gente que quando descobre que é Miller gosta da sonoridade e fala com muita pompa, achando até que é de descendência da nobreza inglesa. Até onde eu sei Miller quer dizer moleiro, o trabalhador braçal dos moinhos.
No final das contas esse negócio de origem de nome não importa tanto quanto as histórias que você tira depois. E tem uma que me marcou muito. Há muito tempo atrás, eu criança perambulando pelos elevadores do meu prédio, desci com uma mulher grávida. Muito gentil, falou que tinha me achado simpático e educado e falou que ia dar meu nome pro filho dela. Falei que era João, sem ser composto. E alguns anos depois a encontrei. Era verdade, o menino se chamou João. Queria ver se eu tivesse falado Weverthon.

Cena Seguinte é isso, dê o significado que você quer. Feliz quatro anos!


Um comentário:

Marcela Capobianco disse...

Que texto legal! A simplicidade é uma dádiva. E eu acho que Cena Seguinte é um nome perfeito para o nosso site. Temos o prazer de ter passado anos no palco e o gostinho de não saber como vai ser o próximo texto, e tampouco o futuro.

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