segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pausa para play

Neste dia, que estreia a semana internacional do arrependimento, para te inspirar, vou confessar: eu corro no meu play. Falei.
Das minhas experiências forçadas de tentar me inscrever em academia, ou arranjar tempo para correr na Lagoa, onze em dez são interrompidas sem resultado. Não digo nem que falta tempo, por mais que eu também não esteja tão desocupado assim. O que acontece é muito mais simples. Eu começo com otimismo demais e, mais do que só isso, ansiedade demais também. Como eu nunca vi resultado de cara, isso se torna sempre um ciclo vicioso. Corro, não vejo resultado, canso e paro de correr. O otimismo volta, corro, não vejo resultado, canso e paro de correr de novo.
Esteiras só dificultam esse meu entendimento. Se for parar pra pensar é o pior estimulante pro subconsciente assimilar que está progredindo. Ou que seja só distúrbio do meu. Em prática correr sem sair do lugar, olhando sempre as paredes e os aparelhos de ginástica, é a maior chatice já inventada. A única graça de correr é quando você se distrai e esquece que tá cansado, assim como esquece que o tempo passa. E, definitivamente, não dá pra se distrair com paisagem que não muda.
Por isso, para forçar-me a ser sempre persistente e enganar o meu cérebro, resolvi praticar o "play ground way of life". Se para você é esquisito, saiba que no meu prédio existe quase uma associação dos "corredores de play". Isso mesmo. Quando eu resolvi dar início a minha empreitada vi que no play do outro bloco um homem já corria com muito entusiasmo, imerso no que eu chamo de 'fase plena do exercício': a distração. Além do mais, no play do meu bloco, a rotina é tal que a borracha dos tênis de outros moradores já delimitaram no chão o trajeto, que agora eu me dou ao luxo de perseguir. Quando começo a correr, já me distraio só de me sentir livre da vista de um cenário só. Coloco meus fones e vou em frente.
A cada um dos quatro corredores do play, uma distração diferente. Na primeira, o bloco dois ao lado, que é onde as janelas se acendem perto da hora do jantar. Já decorei até o poster do Super Mario no quarto da criança do primeiro andar - criança esta que curiosamente vê televisão em pé. Na janela acima tem sempre uma senhora falando no telefone, apoiada no peitoril. Não é exagero, ela está sempre lá, talvez até com olhar suspeito para mim. Seguindo meu caminho, o corredor seguinte dá pra as atividades extra-curriculares do colégio ao lado. Estou quase decorando os esportes de cada dia. Até agora sei que quinta-feira é basquete e que tem sempre uma mãe assistindo na arquibancada, com cara de que preferia estar vendo novela. O próximo corredor dá para a rua e para o prédio da frente. No play de lá tem sempre um coroa em marcha atlética, e que me inspira a continuar correndo. Da rua sempre um grito, uma frase solta. Dá sempre pra pensar em alguma coisa. Por fim, o último trecho é o que menos distrai. Lembro só que era onde eu me escondia no pique-ajuda antigamente. Mas a essa altura eu já estou numa viagem interior. A oito km por hora.
Friamente é um ciclo vicioso também. Não tem paisagem bonita, é escuro, feio e fico girando no mesmo eixo. Já até deixou de ser o lugar memorável dos piques de quando eu era criança - só volta a ser quando uma música antiga toca no iPod. Entretanto já me poupa do grande esforço de me deslocar para academia e acabou virando meu descarrego mental. Além de tudo isso, me deu o grande prazer de poder gritar: "Mãe, tô descendo pro play!". De vez em quando.

De tanto falar de distração, logo hoje, que é quando a Páscoa morre nas nossas barrigas, eu me distraí aqui e esqueci de correr. Ainda assim, para os que duvidaram, fica aí uma palinha do quão sem graça é o meu play em vídeo. Em vídeo.





Um comentário:

Marcela Capobianco disse...

tiro o chapéu pra sua força de vontade. pelo menos até agora. coisa para a qual sou fraquinha, fraquinha é negócio de dieta e exercício. vou sofrer muito ainda... e quem sabe aprenda um dia.

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