Antes da feitiçaria de Machado tornar esse bairro conhecido, ou apenas não estranho a quem sabe o que é Laranjeiras, eu já o estranhava. Preferia entender o meu bairro como um à parte do outro, do qual divide a mesma rua. Achava estranho e uma vez voltando da casa da minha avó, em Laranjeiras, para a minha casa, estipulei que o intermédio entre os dois bairros era na linha que delimitava a garagem de um prédio, desenhada abaixo de onde fica a placa "Rua Cosme Velho". Ficou oficial pra mim. Meus pais não sabiam responder onde exatamente mudava de ares, ou quando passava a virar subida em direção ao Corcovado. Por isso, eu resistia para nunca rebaixar o meu bairro a sub-bairro, como Humaitá é para Botafogo. Desde então procuro um acidente geográfico aqui - que pra quem não sabe é o que divide um bairro de outro.
O que de fato nunca me intrigou foi a origem do nome. Ah, é 'velho' porque ali viveu Machado de Assis, morou Portinari, e mais ainda porque é o bairro que tem no alto a estátua de Jesus. "Talvez seja por isso", pensava eu uns tempos atrás. Como eu estudei no próprio bairro, não surtia curiosidade da parte de ninguém na escola em entender a origem pelo menos do "Cosme". Fui saber bem mais tarde que Cosme Velho Pereira era um comerciante português que morava no alto do bairro das Águas Férreas, onde mais tarde viria a ter o seu nome. Águas essas que serviam inclusive para matar a sede da Rainha. Mas não é por isso que eu gosto daqui.
Morar no Cosme Velho é quase como viver num bairro provinciano. Quando houve o deslize de terra e interditou o Rebouças, quase não se ouvia o barulho do trânsito, mesmo na hora do rush. Dava até pra fechar os olhos e imaginar o cavalgar de charretes. Andar por aqui de noite é sentir-se na roça urbanizada. O céu só não é tão limpo como no interior. Mas quando há lampejos de troca de tiros entre o Cerro Corá e o morro dos Prazeres, imagine estrelas cadentes, e deseje paz. Se não fossem os turistas, diria que aqui também todos se conhecem. Só não gritam saudações de uma calçada para outra - as vezes até gritam. Fora isso, tem uma igreja - a de São Judas - e uma praça na frente, à moda dos tempo do império. Senão fosse a demolição da casa de Machado de Assis, o único pólo comercial que alimenta o bairro também não existiria. Que ficasse intacta então. Ou seja, hipóteses à parte, ainda há vida moderna aqui.
Já nem ligo pro tom esquecido do meu pobre bairro colonial. Quando tem matéria na TV que fala do Cosme Velho, eu me orgulho como se visse um amigo sendo entrevistado. Uma vez ouvi o Jô falar no seu programa. Jogado no meio de outra lista de bairros, mas falou. Isso é inveja porque ele não mora no sopé de uma Maravilha dos Tempos Modernos. Eu moro.
O que de fato nunca me intrigou foi a origem do nome. Ah, é 'velho' porque ali viveu Machado de Assis, morou Portinari, e mais ainda porque é o bairro que tem no alto a estátua de Jesus. "Talvez seja por isso", pensava eu uns tempos atrás. Como eu estudei no próprio bairro, não surtia curiosidade da parte de ninguém na escola em entender a origem pelo menos do "Cosme". Fui saber bem mais tarde que Cosme Velho Pereira era um comerciante português que morava no alto do bairro das Águas Férreas, onde mais tarde viria a ter o seu nome. Águas essas que serviam inclusive para matar a sede da Rainha. Mas não é por isso que eu gosto daqui.
Morar no Cosme Velho é quase como viver num bairro provinciano. Quando houve o deslize de terra e interditou o Rebouças, quase não se ouvia o barulho do trânsito, mesmo na hora do rush. Dava até pra fechar os olhos e imaginar o cavalgar de charretes. Andar por aqui de noite é sentir-se na roça urbanizada. O céu só não é tão limpo como no interior. Mas quando há lampejos de troca de tiros entre o Cerro Corá e o morro dos Prazeres, imagine estrelas cadentes, e deseje paz. Se não fossem os turistas, diria que aqui também todos se conhecem. Só não gritam saudações de uma calçada para outra - as vezes até gritam. Fora isso, tem uma igreja - a de São Judas - e uma praça na frente, à moda dos tempo do império. Senão fosse a demolição da casa de Machado de Assis, o único pólo comercial que alimenta o bairro também não existiria. Que ficasse intacta então. Ou seja, hipóteses à parte, ainda há vida moderna aqui.
Já nem ligo pro tom esquecido do meu pobre bairro colonial. Quando tem matéria na TV que fala do Cosme Velho, eu me orgulho como se visse um amigo sendo entrevistado. Uma vez ouvi o Jô falar no seu programa. Jogado no meio de outra lista de bairros, mas falou. Isso é inveja porque ele não mora no sopé de uma Maravilha dos Tempos Modernos. Eu moro.
7 comentários:
que delícia!
heheh eu sempre soube que virava cosme velho 'depois do prédio do kauê'. mas não sei quem que colocou isso na minha cabeça. e também, quando era pequena, eu imaginava o Cosme velho. é uma imagem que existe até hoje pra mim... e nunca vou poder compartilhá-la com ninguém...
A Dataprev é o primeiro prédio da Rua Cosme Velho, que nada mais é que uma continuação das Laranjeiras.
Quem me contou isso foi o Kauê, já que, bem, ele morava ao lado.
pois é, a linha da garagem fica em frente a dataprev. então a placa da "rua cosme velho" tava na divisão certa
Obrigada, Miller, por essa lindíssima crônica!
Obrigada, Miller, por essa lembrança tão carinhosa para quem ama Machado de Assis e esse bairro que teve a honra de "hospedá-lo", enquanto esteve entre nós!
João,
Gostei muito do seu texto.
Sempre admirei muito o Cosme Velho, mesmo antes de morar em Laranjeiras.
Acho um charme o Largo do Boticário e a redondeza.O solar dos Abacaxis é mto parecido com uma casa q. meu pai morou em Valença.
Parabéns!
Muito boa essa crônica cara. A tua estilística é de alguém que já escreve a muito tempo, continue assim, e tenho certeza de que será um escritor de sucesso um dia.
Grande abraço, Rodrigo de La Rocha
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