Uma vez que eu fale que sou do rock poderá acontecer de um dia eu pagar pelas minhas palavras. Entendo os riscos e caio na banalidade de dizer que sou eclético. Não do tipo banana também vai com feijão. Do tipo que, digamos assim, aproveita aquilo que não chama atenção de primeira em uma outra oportunidade. Digo, em se tratando de música, e já sabe que falo do Rock in Rio. Portanto esse é mais um post-divagação sobre os absurdos e delícias da mente, e do que umas cordas de aço, um amplificador e milhares de pessoas são capazes.
Depois de interferir e racionalizar o meu gosto musical não-estereotipado, é melhor dizer do que guardar comigo: eu fui para o Rock in Rio para dizer "Eu Fui" (e ainda vou em mais um dia). O que isso significa? Somente o que aconteceu comigo e milhares de outras pessoas que compraram mais a marca do que o produto - e não tem nada de mal nisso. Também para salvar o insucesso do meu fanatismo por bandas que eu achei legaizinhas vez ou outra na vida. Entende-se que não rodei o dedo aleatoriamente para escolher quais shows assistir. Resolvi dar mais uma chance para o Red Hot Chili Peppers, e darei mais outra para o Coldplay. E até agora o resultado dessa repescagem é uma new vibe totalmente encarnada num som mais intenso, na descoberta de um eu afogado em outros ritmos. Agora passo o dia escutando Red Hot, larguei mão das batidinhas leves, dos choros dessincopados, das baladas de rádio. Pelo menos por enquanto. Essa efemeridade graças ao arrepio de ver tudo aquilo ao vivo e pular feito um louco como eu nunca imaginei.
Se quiser saber porque aceitar o ingresso se é programa de índio na certa, ainda mais para quem não é um fã de carteirinha de rockzão e metal, é porque uma multidão com cara de várias coisas juntas cantando um sucesso é algo transcedental. Puxa, mais que viagem antropológica, é ou não é? Nem tanto. Até onde sabemos rock não é o forte desta edição. Tirando isso, o porque de toda a satisfação de um show como o Rock in Rio está na própria música, a única maneira de tantas pessoas falarem a mesma língua em todas as suas diferenças. E seja rock, pop ou Claudia Leitte. E é mérito da própria banda balançar quem não é de balanço. Eu mesmo fui esperando não saber cantar nada, nem me empolgar com banda que não conheço. Fui esperando não pular tanto, e voltei para casa com uma baita dor nas pernas.
Foi então no dia seguinte que acordei rock, perturbado com toda a minha vontade de ouvir mais "Can't Stop" e consumir o atraso de toda a discografia do Red Hot para me sentir no espírito da maioria daqueles da noite anterior. Me encontrava em tal euforia que era dificil alguma música aleatória da minha lista servir de consolo naquele momento. E consolar quem é de rock, ou mesmo quem "está" rock? Isso seria meio MPB. Como dizem, a música popular fala sobre o foda-me e o rock fala sobre o foda-se. Não que eu estivesse tão assim. Era mais um surto de identidade, e eu sabia disso. Horas depois botei pra tocar um "Under the Bridge", é como se chamasse a calmaria de quem não é tão rock sem dar o braço a torcer.
Engraçado. Hoje eu penso, por essas e outras que vale mais a pena se descrever falando do que não gosta. Se eu disser que gosto de rock, de MPB, de funk e de samba, você me imaginaria como? Agora se eu só disser que não suporto sertanejo universitário, rap, metal e raggaeton? O Rock in Rio está mais do que certo de botar tudo quanto é ritmo junto. Pelo menos para os ecléticos banana-também-vai-com-feijão. Eu posso desistir de decorar as letras lisérgicas do Anthony Kiedis de um dia para o outro e mesmo que me canse de curtir uma pegada mais rock'n roll um dia, eu e todos os outros 99.999, gostando ou não, dirão: eu fui. E voltei rock por uns dias.
2 comentários:
eu sou do tipo que adora misturar feijão com banana - literalmente também, e acrescentando uma farofinha - e fui ao rock in rio não só pra dizer "eu fui", como pra homenagear minha pré-adolescência, época em que era viciada em disk mtv e o red hot tava sempre lá. voltei surpreendida com a música - também to viciada tardiamente - e com o que é um festival, o que são 100 mil pessoas e tal. pra mim, valeu mto!
Eu nunca deixei de gostar de Red Hot... Na verdade, gosto da banda muito mais hoje em dia do que em 2000, quando passava dias inteiros em casa, na Bélgica, vendo MTV Europa passar o clip cubista de Otherside.
Até porque Californication é um grande álbum, mas Blood Sugar Sex Magik é e sempre será o disco que definiu a banda.
O negócio é o que o RHCP não é uma banda de tocar ao vivo (foram eleitos o pior show do Rock in Rio III pela crítica e nesta edição novamente deram um show bem meia-bomba) e o Kiedis não é grande letrista.
Aliás, a maioria das letras do RHCP são um lixo. O cara tá sempre falando de mulheres-rebeldes-loucas-grávidas-solteiras-lindas-fugitivas ou de drogas em "LA".
Vide Dani California. A letra é um lixo ("she's my priestess, I'm her priest"). Mas tem como não gostar? Red Hot é Red Hot.
Recomendo muito essa crítica do Pitchfork do novo album deles:
http://pitchfork.com/reviews/albums/15761-im-with-you/
Abs/bjs,
Mijo de pombo
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